Brigas

Cada vez mais dividido, PMDB aprova ‘filtro’ para novas filiações

Executiva nacional aprovou resolução que exige a avaliação de novos filiados pelos seus principais dirigentes. Medida foi considerada por muitos como antidemocrática e será contestada judicialmente

Marcelo Camargo/Agência Brasil

O encontro foi uma espécie de lavagem de roupa suja contra Michel Temer e Leonardo Picciani

Brasília – A reunião da executiva nacional do PMDB hoje (16), sem a presença da maioria dos seus dirigentes, mostrou que, além de dividido quanto à decisão de manter ou não a coalizão com o governo, o partido continua cada vez mais fragmentado e em crise interna. O encontro foi uma espécie de lavagem de roupa suja em relação a queixas contra o vice-presidente da República, Michel Temer, e à postura do ex-líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ) – que articula para retomar o comando da liderança. O resultado prático do encontro foi a aprovação de resolução obrigando que as novas filiações só sejam aceitas depois de avaliação do comando nacional peemedebista. Mas as repercussões negativas sobre as consequências dessa nova “ordem” já começaram.

A resolução foi aprovada por ampla margem de votos, mas num evento em que faltaram muitos peemedebistas e terminou sendo acusada, por alguns caciques da própria legenda, de “postura antidemocrática”.

“Fazer uma reunião para proibir a entrada de outros integrantes num partido que não tem dono é um retrocesso sem limites”, disse o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Para um senador que participou do encontro, mas pediu para ter a identidade em sigilo, o intuito da medida foi impedir que Leonardo Picciani se articule para que parlamentares de outras legendas se transfiram para o PMDB, como forma de ajudar na sua recondução à liderança do partido na Câmara.

O problema, disse o parlamentar, é que as consequências da resolução podem ser negativamente significativas para as eleições de 2016, já que os peemedebistas dão especial prioridade a suas bancadas eleitorais nos estados, o que resulta em acordos locais que, por sua vez, sempre resultam em novas filiações.

Um outro ponto discutido na reunião foi a própria postura de Michel Temer, segundo o mesmo parlamentar. Apesar de críticas feitas no início da manhã por Renan Calheiros, que chegou ao Senado afirmando que o vice-presidente também era responsável pela crise no país e aplicou pouco de sua experiência política no uso do cargo, o comportamento de Temer também foi colocado em xeque por vários deputados e senadores.

Grupo

Uma das críticas foi o fato de o vice-presidente ter mencionado, na carta recentemente endereçada à presidenta Dilma Rousseff, mágoas que teria com atos que representaram desprestígio aos políticos do seu grupo e não ao PMDB como um todo. E isso, na avaliação de muitos deputados e senadores, pegou mal junto à bancada.

Além disso, eles reclamaram da briga aberta entre o vice-presidente e o ex-líder peemedebista Picciani. Consideram que essa seria uma questão menor, que Temer poderia ter resolvido e até buscado uma tentativa de conciliação, para atuar como protagonista nas articulações do Executivo com o PMDB.

Com isso, ao limitar-se a uma disputa “mínima” com Picciani, em vez de agir como um protagonista da aliança do PMDB com o governo, Temer fez o bloco alinhado com o deputado do Rio colocar-se claramente a favor do governo e, portanto, contra o impeachment. Com isso, a base rachou: nos bastidores formou-se um grupo que, embora não comente, torce e trabalha pelo impeachment de Dilma, matéria de particular interesse do próprio Temer.

Questionamento

Ficou claro para os presentes à reunião de hoje que a resolução aprovada atendeu diretamente aos pedidos feitos por Temer – que foi representado pelo vice-presidente nacional do PMDB, o senador Valdir Raupp (RO).

Para Raupp, a decisão de “filtrar” as novas filiações ao partido, é legítima e até já é utilizada por alguns diretórios do país, para registrar vereadores e deputados estaduais à legenda.

Já Leonardo Picciani destacou que a ala do PMDB que discorda do texto aprovado há pouco vai apresentar uma ação judicial para contestar a medida. “A Executiva peemedebista escreveu uma página triste da sua história. A resolução invade a competência do estatuto do partido, invade a competência da convenção. Tira dos diretórios regionais a liberdade que sempre teve de processar filiações”, afirmou Picciani.

O novo líder da legenda na Câmara, Leonardo Quintão (MG), disse que a decisão tem o objetivo de impedir que o PMDB termine virando “mais um partido de aluguel”. E o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), cuja postura foi pouco abordada no encontro, afirmou por meio de uma nota lacônica que “truculências e desmandos marcam intervenção na bancada do PMDB” – dando a entender que considerou acertada a decisão da executiva nacional. Ontem, durante entrevista coletiva, Cunha pregou mais uma vez a saída de todos os peemedebistas da coalizão com o governo.