7 de setembro

Ministro minimiza protestos, mas Planalto aumenta segurança de Temer para desfile

Por conta das manifestações, presidente não vai mais desfilar em carro aberto, credenciamento para palanque oficial foi reforçado e muro instalado durante o impeachment continuará até quinta-feira

Fabio Rodrigues Pozzebom/Abr/fotos públicas

Ministro Geddel Vieira Lima disse que não considera manifestações “nem legítimas nem expressivas”

Brasília – Enquanto o Palácio do Planalto fez várias mudanças no cerimonial do desfile cívico de amanhã (7), na capital do país, o Executivo procura passar para a opinião pública a ideia de que não há que se preocupar com os protestos contra o governo de Michel Temer realizados nos últimos dias. Hoje (6), enquanto uma equipe se reunia para redefinir normas de segurança e até novo credenciamento para as autoridades convidadas para o palanque oficial durante o evento, o secretário de Governo, ministro Geddel Vieira Lima, disse que não considera tais manifestações, “nem legítimas nem expressivas”.

A fala do ministro, que ainda considerou as manifestações “nitidamente convocadas por partidos políticos e entidades sindicais” vai ao encontro das declarações feitas pelo presidente Michel Temer, semana passada na China, que reduziu a importância dos protestos e a quantidade. A resposta foram 100 mil pessoas nas ruas em São Paulo e práticas violentas de repressão. Essa contradição, que marcou as conversas desta terça-feira se deu por conta das mudanças nos preparativos para o desfile de amanhã em comparação com os últimos 15 anos (desde 2001).

O desfile da Independência, em Brasília, tem início às 9h, e as medidas efetivas só serão consolidadas após passarem pelo aval do próprio Michel Temer à noite, segundo informações do Palácio do Planalto. Mas já se sabe que ele não participará do desfile em carro aberto – como sempre fizeram os presidentes em exercício Fernando Henrique Cardozo, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Além disso, as autoridades e convidados que terão acesso ao palanque oficial precisaram passar por um segundo crivo, antes de serem confirmados e oficialmente convidados.

Também não está certa a presença da primeira dama, Marcela Temer, nem do filho do casal, Michelzinho, no evento – o que só será confirmado horas antes do desfile. Assim como não está totalmente acertada a estrutura de policiais a ser montada.

Esse contingente costuma ser, todos os anos, de cerca de 1.300 homens da Polícia Militar e aproximadamente 3 mil militares (oficiais do Exército e integrantes das outras armas que costumam compor Forças de Segurança – presentes em eventos deste tipo). A pedido de assessores mais próximos do presidente, o número será ampliado.

A postura da presidência da República ao comentar os protestos repercutiu de forma negativa também entre parlamentares aliados da base do governo. Um parlamentar do PMDB, ao avaliar o quadro, afirmou hoje que a postura do Executivo precisa ser modificada.

Segundo este político, “não se sabe se as providências de prevenção do desfile cívico em Brasília são consequência das notícias de manifestações que estão sendo programadas para amanhã e quinta-feira no país ou se estão sendo adotadas pelo fato de ser a primeira vez que o presidente começa, oficialmente, a posar como mandatário – já que assim que tomou posse ele viajou para missão oficial na China, de onde só retornou hoje”. “O que temos de certo é que esta não é uma boa forma de agir”, acrescentou.

“Temos percebido que a preocupação do Executivo com os manifestantes, embora negada pelos ministros mais próximos dele, tem sido mais nítida. E achamos que é importante ser feita uma reunião com os ministros da área e o Executivo, na próxima semana, para que o governo passe uma postura mais firme. Não de repressão violenta, mas no sentido de o presidente dar as caras, sem medo de sair às ruas, porque se ele continuar agindo assim, evitando aparições, terá problemas piores ainda”, afirmou esse peemedebista.

Muro continua

Para se ter ideia das preocupações do Palácio do Planalto, o muro de chapas de metal que foi colocado na Esplanada dos Ministérios para dividir as pessoas que foram acompanhar a votação do impeachment – entre manifestantes contrários e favoráveis ao afastamento de Dilma – e que foi montado outras duas vezes e desmontado poucas horas após as votações, continua no local.

A pedido da Presidência da República, o muro (que é de responsabilidade do Governo do Distrito Federal) só será desmontado depois do desfile cívico. Mesmo assim, está sendo instalado, esta tarde, um segundo muro (o único que vinha sendo montado há anos), para cobrir toda a área em frente ao palanque presidencial.

Um dos objetivos do Palácio do Planalto é impedir que os integrantes do desfile cívico, assim como os convidados do palanque presidencial, escutem ou se sintam muito próximos do barulho das manifestações a serem feitas do outro lado da Esplanada dos Ministérios – em frente ao Museu da República.

Intitulada “Grito dos Excluídos”, a outra marcha está sendo organizada por integrantes de várias entidades da sociedade civil, sindicatos e representações de trabalhadores e estudantes. E tem horário para se concentrar a partir das 8h30 – ou seja, 30 minutos antes do desfile oficial.

“Não estamos interessados em violência. Os protestos que temos feito têm caráter pacífico. A violência vista por aí é desse governo, cujo presidente teve medo de participar do encerramento das Olimpíadas e agora está com medo de desfilar em carro aberto para evitar vaias. Como se ele deixasse de ser vaiado por onde tiver de passar”, afirmou a bancária Jenilsa Andrade.

A expectativa é de que aproximadamente 35 mil pessoas ocupem a Esplanada para acompanhar o desfile oficial, que terá cerca de 5.200 participantes entre militares das três armas (Exército, Marinha e Aeronáutica) e estudantes de escolas públicas e privadas do Distrito Federal e Entorno, conforme informações da Polícia Militar.

Também está prevista a presença de outras 15 mil pessoas do outro lado da Esplanada, participando dos atos e passeatas de protesto contra o governo, por parte dos representantes das entidades que organizam a chamada “Marcha da Resistência”.