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Bolsonaro gastou quase R$ 45 mil em cercadinhos pagos com cartão corporativo até em férias

A maior parte das notas fiscais data de fevereiro de 2021 e mostra que, no auge da pandemia, Bolsonaro seguiu incentivando e promovendo aglomerações com dinheiro público

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR
"Fácil ter a 'popularidade' que Bolsonaro queria exibir, bancando cercadinho e mobilização com cartão corporativo", ironizou o escritor Ale Santos em sua conta no Twitter

São Paulo – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) usou o cartão corporativo para pagar os chamados “cercadinhos”, como ficaram conhecidos os gradis onde Bolsonaro cumprimentava apoiadores e fazia selfies com eles. Foram gastos quase R$ 45 mil em ao menos nove estruturas montadas, inclusive, em locais sem relação com agendas oficiais do ex-mandatário e até durante suas férias em Santa Catarina. 

O gasto com dinheiro público foi revelado nesta quinta-feira (26) em reportagem do UOL. O portal levou em conta documentos obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) pela agência Fiquem Sabendo. O montante gasto, porém, pode ser ainda maior, uma vez que apenas 20% das notas fiscais do cartão corporativo usado por Bolsonaro foram digitalizadas até o momento, após a quebra de sigilo.

As estruturas eram usadas para que Bolsonaro cumprimentasse e tirasse fotos com eleitores. A reportagem contabilizou nove cercadinhos em diferentes cidades, ao custo total de R$ 44.364,59. Em ao menos quatro ocasiões, eles nem sequer foram montados em locais com relação com as agendas oficiais do ex-presidente. Boa parte das estruturas, por exemplo, era instalada em portas de aeroportos ou bases militares. Elas serviam unicamente para que Bolsonaro pudesse fazer corpo a corpo com apoiadores, em um gesto notadamente eleitoral. 

Aglomeração no auge da pandemia

De acordo com a publicação, a maior parte das notas fiscais data de fevereiro de 2021, auge da pandemia de covid-19 no Brasil. Na época, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa e das secretarias de Saúde, o país registrou o segundo maior número de mortes desde o início da pandemia, em março de 2020, e o maior desde julho. No período mais letal da pandemia, Bolsonaro seguiu, no entanto, provocando aglomeração e sem o uso de máscara de proteção. 

Além disso, no mesmo mês, o ex-presidente, mesmo de férias em Santa Catarina, usou o cartão corporativo para financiar um cercadinho onde encontrou eleitores. A reportagem detalha que, entre 12 e 17 de fevereiro, Bolsonaro gastou mais de R$ 12 mil com um gradil instalado em frente ao Forte Marechal, em São Francisco do Sul, onde passava as férias com a família. Foram alugados 860 metros de gradis em um período em que o ex-presidente não tinha agenda oficial. 

Na época, o ex-mandatário foi flagrado usando uma moto aquática da Marinha para fazer passeios pelo litoral da região. Ele ainda visitou o parque temática Beto Carrero World e participou de pescarias. Em casos em que foram montados cercadinhos nos locais onde Bolsonaro participaria de agendas oficiais, o então presidente chegou a gastar com o cartão corporativo R$ 4.350,59 com duas estruturas nas cidades de Caucaia e Tianguá, no Ceará, para um mesmo dia, em 25 de fevereiro. 

Repercussões

A descoberta provocou críticas nas redes sociais. “Ou seja, as selfies e as declarações autoritárias tiveram um custo: o seu bolso. Revoltante! Essa falta de respeito não vai se repetir”, condenou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) em seu perfil no Twitter. “Fácil ter a ‘popularidade’ que Bolsonaro queria exibir, bancando cercadinho e mobilização com cartão corporativo”, ironizou o escritor Ale Santos.