MIMOS

Documento mostra que Bolsonaro recebeu outro pacote de joias dos sauditas

Relógio, caneta, abotoaduras, anel e um tipo de rosário, de marca suíça de diamantes, só foram encaminhadas para o acervo do Planalto mais de um ano após serem entregues ao governo anterior

(Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)
(Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)

São Paulo – Dois dias após revelação de que o governo Bolsonaro tentou entrar ilegalmente no pais com joias do valor de R$ 16 milhões dadas de presente pelo governo saudita, surge um novo caso suspeito. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, um pacote com caneta, abotoaduras, anel e um tipo de rosário, da marca suíça de diamantes Chopard, foi recebido em outubro de 2021 e só em 29 de novembro do ano seguinte, já depois das eleições e com o governo anterior de saída, foi devidamente encaminhado para compor acervo pessoal do ex-presidente no Palácio do Planalto.

Essa nova leva de presentes, também enviada pelo governo saudita, não foi interceptado pela Receita e não há estimativa de quanto ela vale. Sempre de acordo com a Folha de S.Paulo, o então assessor especial do Ministério de Minas e Energia Antônio Carlos Ramos de Barros Mello justificou a demora para entregar os itens argumentando que, no período, foram feitas tratativas para definir o destino dos presentes. “Demorou-se muito nesse processo para dizer quem vai receber quem não vai receber, onde vai ficar onde não vai ficar. Só não podia ficar no ministério nem ninguém utilizar.”

Pressão por liberação

Tanto as joias avaliadas em R$ 16 milhões, que ficaram retidas na Receita Federal, quanto o pacote com caneta, abotoaduras, anel e rosário foram entregues pelo governo saudita em outubro de 2021 por ocasião da missão brasileira que esteve no país do Oriente Médio. Eles foram enviados a Bolsonaro, que não estava na missão, por meio do ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque.

Jair Bolsonaro atuou pessoalmente para tentar liberar as joias retidas na Receita Federal. Além disso, acionou nada menos do que três ministérios, Minas e Energia, Economia e Relações Exteriores, para tentar tirar os itens da Receita. Eles seriam um presente para a ex-primeira dama Michele Bolsonaro. Sem sucesso, alegou posteriormente que as joias iriam para o acervo e depois seriam entregues para Michelle.

Sem pedido

A Receita Federal, porém, informou na sexta-feira (4) que não houve pedido de incorporação. Em nota, o órgão explicou que a medida exige uma solicitação de autoridade competente, com justificativa da necessidade, como valor cultural e histórico relevantes. “Não cabe incorporação de bem por interesse pessoal de quem quer que seja, apenas em caso de efetivo interesse público”, diz. Um dia antes, na quinta-feira (3), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou que pedirá à Polícia Federal investigação da tentativa do governo Bolsonaro de entrar ilegalmente no país com as joias.