Defesa da vida

Bispos estão vigilantes e comprometidos com a luta dos povos da Amazônia

Bispos da Amazônia Legal lançam carta em defesa da vida e mostram que nem todas as lideranças cristãs estão alinhadas ao governo Bolsonaro

Marcelo Camargo /Abr
Marcelo Camargo /Abr
Amazônia Legal: bispos rechaçam retrocessos e violações de direitos dos indígenas, “principalmente, no que se refere à regularização dos seus territórios”

Brasil Popular – Os bispos da Amazônia Legal se reuniram, virtualmente, nos dias 18 e 19 de maio, e aprovaram a “Carta Aberta do Encontro dos Bispos da Amazônia Legal ao Povo Brasileiro”. O teor do documento, dirigido aos “homens e mulheres comprometidos com a defesa da vida” revela, claramente, que nem todas as lideranças religiosas cristãs do Brasil estão alinhadas ao discurso negacionista, fundamentalista, ultraconservador, violento e anti-ambientalista do governo de Jair Bolsonaro.

Divulgada pela Comissão Episcopal Especial para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil), a carta – assinada por bispos, presbíteros e diáconos, religiosos e religiosas, cristãos leigos e leigas – indica que a Igreja Católica está “vigilante”, em “escuta” e com “comprometimento inequívoco” com a luta dos povos da Amazônia.

“No exercício de nossa missão evangelizadora, dirigimos esta mensagem a toda a sociedade, aos povos da Amazônia, aos homens e mulheres comprometidos com a defesa da vida. E o fazemos profundamente sensibilizados pela situação de vulnerabilidade e ameaças que sofre toda casa comum, agravada pela pandemia da Covid-19, e pelo acirramento das disputas territoriais com expansão das atividades minerais e do agronegócio em terras de populações tradicionais”, afirmam o conjunto de religiosos e leigos que assinam o documento.

Os bispos ressaltam que a “consequência desse cenário de morte”, de mais de 445 mil vítimas da pandemia, “além dos que sucumbiram diante de processos de violência no campo e na cidade”, se deve ao “descaso” e aos “projetos de morte”, contra os quais os religiosos se levantam.

Nesse contexto desolador, os bispos dizem que acompanham “estarrecidos, mas não inertes”, o desdobramento de “um arquitetado projeto genocida que, por sua vez, revela o devastador agravamento de uma crise que escancara a pobreza diante da escandalosa concentração de riquezas”.

Os religiosos denunciam a “perversidade” de uma economia de mercado, que “se alimenta das necessidades dos Estados nacionais” e do capital que “sequestra a autonomia dos Estados, exige e dita os novos rumos da política, rompe com as históricas conquistas sociais, desmonta as instituições e políticas de seguridade”.

Na particularidade amazônida, os bispos observam que as populações da Amazônia Legal têm diante de si o escandaloso desafio da pretensiosa “legalidade do ilícito”, e, nesse contexto, alertam as lideranças: “Ou apelamos para a garantia legal da vida e dos territórios ou nos defendemos quando o extermínio se torna lei!”

Eles apontam a presença do mesmo dinamismo nas lutas dos povos indígenas, que, destacam, enfrentam retrocessos e violações de direitos, “principalmente, no que se refere à regularização dos seus territórios”, além das invasões de terras, facilitando a exploração, por parte de “garimpeiros, mineradoras, madeireiros, desmatadores, agentes do agronegócio”.

A esse cenário, acrescentam “os incêndios, poluição das águas dos rios, contaminação de peixes, contaminação das pessoas e dos animais; assassinatos, violência sexual, pandemia, desassistência”.

Cobranças

Diante de quadro tão desolador para os povos que habitam a região da Amazônia Legal, os signatários da carta cobram dos governantes da região que cumpram seu dever constitucional de “agir para evitar a destruição das riquezas naturais e implementar políticas públicas que amenizem a situação de desigualdade e pobreza” da Amazônia. Também conclamam lideranças de cristãos leigos e leigas, a não desanimar da luta, diante da dor dos mais pobres, e finalizam a carta, assumindo alguns compromissos de luta e resistência da igreja na Amazônia.

Leia a íntegra da carta