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Defesa não consegue trocar perito que posta nas redes sociais contra Dilma

Parlamentares contestaram a isenção de um dos três auditores indicados para analisar as contas da presidenta. Pedido de impugnação foi rejeitado e pode ser objeto de recurso

Pedro França/Agência Senado

Cardozo debate com Anastasia a polêmica sobre o perito que não é simpático à presidenta

Brasília – A comissão especial do impeachment rejeitou hoje (16) pedido do advogado de defesa da presidenta Dilma Rousseff, o ex-advogado-geral da União José Eduardo Cardozo, para impugnar a indicação do técnico legislativo Diego Prandino Alves como coordenador do grupo de três peritos que terá a missão de realizar auditoria contábil nas contas da presidenta. Cardozo, com senadores contrários ao impeachment, argumentou que há suspeição por parte do profissional, pelo fato de ele ter dado vários depoimentos nas redes sociais criticando não apenas a presidenta afastada como o PT. Mas venceu o voto dos parlamentares pró-impeachment que destacaram o currículo do profissional e consideraram que o fato de ele ter feito comentários pessoais não deve ser visto como problema para a realização do trabalho.

Cardozo prometeu recorrer da decisão, assim como os senadores que foram voto vencido, como é o caso de Lindbergh Farias (PT-RJ). E o caso, pela polêmica que criou, levou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a declarar no início da tarde que vai divulgar uma nota oficial pedindo isenção na auditoria e que sejam tomados todos os cuidados necessários nos trabalhos realizados pela comissão, devido à seriedade do processo que está sendo analisado.

Segundo Cardozo, o técnico, servidor concursado do Senado e considerado um profissional preparado, “teria demonstrado engajamento político e ideológico contra a presidenta”. Já Lindbergh afirmou que “não satisfeitos em tentar barrar a realização da perícia nas contas da presidenta afastada – que só foi autorizada por decisão judicial – os deputados pró-impeachment tentam, com essa estratégia, fazer um golpe dentro do golpe”.

“O trator dos golpistas, num primeiro momento, tentou impedir a perícia. Depois, obrigados pelo STF, tiveram que recuar e nomear técnicos para realizar o exame solicitado pela defesa da presidenta. E não satisfeitos, resolveram indicar um perito para coordenar os trabalhos que tem posições explícitas contra Dilma, o PT e o governo”, disse Lindbergh.

Com o mal-estar causado em relação ao tema, que repercutiu em vários setores do Senado, inclusive no plenário, Renan disse, em conversa reservada com integrantes da comissão, que com a declaração oficial ele, de certa forma, está se posicionando para fazer com que o próprio perito renuncie da sua indicação. E, assim, tentará evitar novas judicializações dos trabalhos da comissão – o que não considera bom para o Legislativo. Ao mesmo tempo, o presidente do Senado tenta evitar  novas interferências no rito da comissão do impeachment.

O senador também teria afirmado aos colegas com quem tratou do assunto que não se sentia à vontade para pedir diretamente a saída do perito, mas que considera legítimo, dentro da posição que ocupa como presidente da Casa, a publicação da nota oficial falando sobre o trabalho a ser realizado.

Diego Prandino Alves foi indicado para ser o coordenador da referida auditoria ao lado dos técnicos contábeis João Henrique Pederiva e Fernando Álvares Leão Rincón pelo relator da comissão, Antonio Anastasia, e pelo presidente da comissão, Raimundo Lira.

Procurado pela reportagem, o perito não foi encontrado e não retornou aos pedidos de entrevista. Prandino Alves retirou suas páginas das duas redes sociais mais conhecidas, Twitter e Facebook, após o pedido de impugnação do seu nome no grupo de peritos indicados para atuar na comissão.

Segundo informações do Senado e do currículo Lattes, do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico (CNPQ), ele é consultor de orçamentos do Senado Federal, graduado como engenheiro eletricista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e tem duas especializações. Na primeira, é especialista em finanças públicas pela Escola de Administração Fazendária (com sede no Distrito Federal). Na segunda, em contabilidade pública pela Universidade do Sul de Santa Catarina.

O pedido para realização de uma auditoria contábil nas contas de Dilma durante o seu governo foi feito pela defesa da presidenta e rejeitado pela comissão do impeachment. Mas um recurso apresentado pela defesa foi acatado, recentemente,  pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que determinou ao colegiado a indicação e nomeação de um grupo de peritos para a realização imediata desse trabalho.