Eleições 2016

PT, com Lula, e PSB, com os Campos, devem ir a segundo turno em Recife

João Paulo (PT) é ex-prefeito e deixou o cargo com boa avaliação. Geraldo Julio (PSB) tenta se reeleger com o apoio da família do ex-governador Eduardo Campos

arquivo/ebc

Em Recife, Geraldo Júlio tem 38% das intenções de voto. Com 26%, aparece João Paulo (PT)

Brasília – Nos anos 1980, quando o Brasil vivia o processo de redemocratização, uma dúvida marcou as primeiras eleições municipais do Recife após o fim da era dos prefeitos biônicos: será que a capital de Pernambuco, que sempre se destacou por manifestações intensas de movimentos sociais, é mesmo de esquerda ou, quando vota na esquerda, o faz porque tem perfil oposicionista? Os anos passaram, vários candidatos de siglas como PMDB, DEM, PSB e PT chegaram à prefeitura e muita gente tirou conclusões diferentes, da forma como achou melhor. Nas eleições deste domingo (2), os recifenses têm dois candidatos na frente. De um lado, com 38% das intenções de voto, está o atual prefeito, Geraldo Julio (PSB). Do outro, com 26%, aparece o ex-prefeito e deputado federal João Paulo (PT).

A expectativa é de que os dois sejam escolhidos para se enfrentar no segundo turno e, aparentemente, poderiam ser definidos como dois candidatos de esquerda disputando a prefeitura, não fossem as coligações feitas por suas chapas com outros partidos que, de tão mescladas, embrulham o cenário municipal.

Geraldo Julio, técnico concursado do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE), até 2012 nunca tinha sido político e quando teve sua candidatura apresentada pelo então governador Eduardo Campos, neto de Miguel Arraes e presidente nacional do PSB – falecido em 2014 – foi chamado por muita gente de “poste”.

João Paulo, economista que iniciou a vida política com participação na Ação Católica Operária (ACO), sempre foi atrelado aos movimentos sociais e participou do PT desde a criação da sigla. Ele foi prefeito do Recife por duas vezes e deixou o cargo com boa popularidade.

Atualmente, João Paulo é deputado federal e até o afastamento de Dilma Rousseff comandou a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Estava com 29% nas intenções de voto do início do mês, deu uma descida de três pontos percentuais e aguarda-se a próxima pesquisa para saber sua situação. Na última semana, recebeu o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou de passeatas no centro da capital, subiu no palanque e pediu votos.

Assim como Lula fez com João Paulo, Geraldo Julio conta com o apoio do governo de Pernambuco (também do PSB) e da esposa e filhos de Eduardo Campos. A coligação encampada pelo atual prefeito é formada por 20 legendas que integrama chamada “Frente Popular do Recife”– da qual fazem parte, além do PSB, PCdoB (que nacionalmente é aliado do PT), o PMDB do deputado e ex-governador Jarbas Vasconcelos – considerado mais tucano do que peemedebista – e os partidos PRTB, PPL , PSC, PR, PMB, PTC, PP, PPS, PSD, PDT, PRP, SD, Rede, PSDC, Pros, PHS e PEN. O candidato a vice-prefeito é o atual vice, Luciano Siqueira (PCdoB).

Já o PT de João Paulo tem a chapa intitulada “Recife Pela Democracia”, formada por cinco partidos (PT, PRB, PTN, PTdoB e PTB). O candidato a vice-prefeito é o deputado estadual Sílvio Costa Filho (PRB), filho do ex-líder das minorias na Câmara Sílvio Costa (PTdoB), que ficou conhecido por travar brigas histriônicas com o deputado cassado e ex-presidente da Casa Eduardo Cunha.

Questões nacionais evitadas

Ao contrário de outras capitais e apesar do fato de ser impossível dissociar os candidatos dos seus padrinhos, os guias eleitorais e demais propagandas da cidade têm evitado nacionalizar a disputa, procurando deixar de lado questões como as denúncias envolvendo políticos do estado na Lava Jato (que menciona nomes tanto do PT como do PP, PMDB e PSB). Ou a operação Turbulência, da Polícia Federal, que ainda apura suposto desvio de recursos nas obras da transposição do rio São Francisco para campanhas do PSB nos últimos anos (descoberta após ser investigada a origem do avião Cessna usado na campanha de Campos à presidência da República, no acidente que o matou).

Conforme a avaliação de políticos do estado, as situações são diferentes, mas difíceis para os dois principais candidatos este ano, em relação aos períodos anteriores em que disputaram o pleito. No caso de Geraldo Júlio, embora quatro anos atrás ele fosse desconhecido do eleitorado, desta vez, por mais que conte com o apoio dos socialistas, não terá o empurrão do próprio Eduardo Campos, que em 2012 tinha bom índice de popularidade e praticamente encampou sua candidatura.

Agora, o momento é de Geraldo Julio mostrar se as obras e a gestão que realizou ao longo desses quatro anos tiveram o aval popular e foram bem aceitas, num período que, como aconteceu com a maioria dos prefeitos, a prefeitura teve de enfrentar crises diversas e falta de recursos.

Por sua vez, João Paulo leva nas costas o desgaste do PT no cenário nacional, incluindo a saída do Executivo federal, depois do impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Como ponto positivo, João Paulo tem o fato de, este ano, encontrar o partido unido em torno da sua candidatura. Isso porque, nas eleições de 2012 em Recife, o PT apresentou divergências internas que terminaram dando espaço para o crescimento do candidato do PSB – o que levou à vitória de Geraldo Julio.

As eleições recifenses têm sido judicializadas com ameaças diversas de retirada de tempo dos candidatos nos guias eleitorais e pedidos de impugnações – tanto pelos que disputam a prefeitura como pelos que pleiteiam vagas de vereador. Também têm sido destacadas por debates sobre obras recentes na cidade. Um destes casos começou com uma frase negativa sobre o Hospital da Mulher, inaugurado este ano pela prefeitura, que suscitou numa discussão sobre a saúde pública como um todo na cidade.

Ao falar sobre o Hospital da Mulher, o prefeito Geraldo Julio foi criticado por João Paulo por ter feito, na construção, o que ele chamou de “gaiola de luxo”. Julio aproveitou a comparação para dizer que seu adversário estava “desprezando as mulheres e a causa feminina como um todo”.

João Paulo explicou que usou, com a expressão, nada mais que uma referência ao dito popular de que “não é uma gaiola bonita que alimenta o passarinho”, para fazer referência às novas instalações do hospital, em contradição com as dificuldades observadas no sistema de saúde pública da cidade. E aproveitou para reclamar do tratamento dado pela prefeitura ao setor. O tema foi, durante dias, alvo de trocas de farpas e acusações por assessores e aliados dos dois candidatos.

Outro debate tem sido observado em relação à Via Mangue, obra expressa que liga a zona sul ao centro do Recife e tida como vital para desafogar o trânsito da cidade. A via foi inaugurada em janeiro, em parceria com o governo federal, em evento que contou com a presença de Dilma Rousseff. É lembrada tanto pela campanha do prefeito do PSB como pela do PT, que faz questão de destacar o empenho do governo federal para garantir os recursos que permitiram a conclusão dos trabalhos.

Nomes promissores?

Outros candidatos que têm chamado a atenção são o deputado federal Daniel Coelho (PSDB) que está com 14% das intenções de votos, e a deputada estadual Priscila Krause (DEM), filha do ex-prefeito, ex-governador e ex-ministro Gustavo Krause, com 4%. Embora tenham percentuais pequenos, os dois são tidos pelos seus partidos como políticos que prometem despontar, se não nesta, nas próximas eleições.

Coelho foi vereador, deputado estadual e candidato a prefeito em 2012. Pelo empenho com que tem apresentado sua candidatura e o crescimento observado no guia eleitoral, há quem espere um crescimento do seu nome, nesta reta final da campanha. O candidato, entretanto, tem sido criticado por seguir a mesma cartilha dos demais e evitar falar em questões nacionais. Até sua cor de campanha causou polêmica, pelo fato de ter preferido o verde, em vez do azul tradicionalmente usado pelos tucanos.

Priscila, por sua vez, é engajada com as redes sociais, onde tem perfil atuante, e se comunica bem com o público. É considerada uma voz promissora e carismática entre os políticos do DEM. Além deles, também disputam a prefeitura do Recife Edilson Silva (Psol), que possui 2% das intenções de voto, e na rabeira, os candidatos Carlos Augusto (PV), Simone Fontana (PSTU) e Pantaleão (PCO) – estes três últimos não pontuaram na última pesquisa.

Votos brancos ou nulos

Conforme os levantamentos recentes feitos junto aos recifenses, 11% dos eleitores pretendem votar em branco ou nulo nestas eleições, enquanto 5% preferiram não responder em quem vão votar. No total, 1.119.271 de pessoas vão às ruas da capital pernambucana para escolher o prefeito e ajudar a definir as vagas de 39 vereadores.

Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, em Recife, como na maioria das capitais, 55% do eleitorado é do sexo feminino. Já em relação à faixa etária, o maior percentual de idade dos eleitores vai de 30 a 34 anos. No tocante ao grau de instrução, o maior percentual dos eleitores da cidade (42,39%) possui ensino médio, seja completo ou incompleto.

E em relação à Câmara Municipal, as vagas são disputadas por 933 candidatos de 31 partidos – 29 vereadores tentam a reeleição.

“A existência de candidaturas fortes com perfis diferentes é importante porque ajuda a esquentar o debate sobre os problemas específicos de cada município, mas não há como dizer, diante de coligações tão grandes, se há uma chapa de esquerda ou oposicionista neste cenário. E isso marca as eleições deste ano em várias capitais, país afora”, avalia o pesquisador e cientista político Antonio Miranda, da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).