Abastecimento

Oposição quer explicações de Alckmin sobre instrução para abafar racionamento

PT quer saber por que cidadãos não receberam informações sobre real situação da crise da água. Áudio mostra presidenta da empresa se queixando de orientação de 'superiores' para não alertar população

Luiz Alberto França/Câmara Municipal de São Paulo

Dilma Pena: “ordens superiores” impediram que população fosse devidamente alertada sobre falta d’água

São Paulo – A presidenta da Sabesp, Dilma Pena, e o diretor da companhia Paulo Massato vão ser convidados, na próxima semana, pela oposição ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), a prestar esclarecimentos na Assembleia Legislativa de São Paulo sobre o áudio vazado de uma reunião da diretoria da empresa. A liderança do PT também vai entrar com representação no Ministério Público estadual, com pedido de investigação de possível ato de improbidade administrativa do governador e do secretário de Saneamento e Recursos Hídricos, Mauro Arce.

Na gravação, a presidenta da empresa, Dilma Pena, reconhece que, por ordens “superiores”, a população não foi devidamente informada sobre a gravidade da crise de abastecimento de água. O áudio foi divulgado pelo jornalista Renato Rovai, no Portal Fórum.

“Foram negligenciadas as orientações de fazer os investimentos e racionamento. Vamos chamá-los na Comissão de infraestrutura da Assembleia. Vamos querer saber de quem partiu essas ordens, se do secretário de Assuntos Hídricos ou do governador. Se é do governador, ele prevaricou. A Sabesp foi omissa por não ter repassado a informação. Pode ser caracterizado como improbidade administrativa”, diz o deputado estadual Luiz Claudio Marcolino (PT). “O governo e a Sabesp tinham os recursos para investimentos e não fizeram, mas fizeram lucros para os acionistas da Sabesp.”

No áudio, a presidenta da Sabesp diz que a empresa “tem estado muito pouco na mídia”. “Acho que é um erro. Nós tínhamos que estar na mídia, com os superintendes locais, nas rádios comunitárias, Paulo [Massato, diretor] falando, eu falando, o Marcel falando, todos falando, com um tema repetido, um monopólio: ‘Cidadão, economize água’.”

No entanto, por interesses não esclarecidos, as informações não foram repassadas à população. “A gente tem que seguir orientação… A  orientação não tem sido essa, mas é um erro. Tenho consciência absoluta e falo para pessoas com quem converso sobre esse tema, mesmo meus superiores, acho um erro essa administração da comunicação dos funcionários da Sabesp, que são responsáveis por manter o abastecimento, com os clientes”, diz Dilma na gravação.

Apesar da gravidade da situação, o governador não teria informado a população e teria evitado de fazer um racionamento por estar em período eleitoral. Ele foi reeleito no primeiro turno.

Recentemente, durante depoimento na CPI da Câmara Municipal que investiga o caso, Dilma se saiu com a explicação de que a população não foi devidamente alertada devido às restrições impostas pela legislação eleitoral, que não veda, no entanto, a divulgação de mensagens de interesse público por parte de órgãos oficiais.

Para Marcolino, a crise da água é mais um episódio do desmonte do estado que caracteriza o governo tucano em São Paulo. “Não adianta orientar a população para fazer poço artesiano. A responsabilidade passa a ser das pessoas? Desmonta-se a estrutura de gestão da água no estado e o cidadão tem que resolver? Então, para que estado?”, questiona o deputado. “Eles estão desmontando os serviços de saúde, educação, segurança, direitos básicos do cidadão, e agora de fornecimento de água, e jogando para o setor privado.”

Nos últimos dez anos, orientações técnicas do próprio Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee), segundo Marcolino, indicavam a necessidade de se fazer investimentos no sistema de água.

Nota do governo

Após a divulgação do áudio, o governo de Geraldo Alckmin divulgou nota cobrando esclarecimentos da Sabesp, mas se isentando das responsabilidades. “O governo de São Paulo nunca vetou qualquer alerta sobre a srise hídrica. Ao contrário, o próprio governador concedeu mais de uma centena de entrevistas coletivas, desde fevereiro, para salientar a gravidade da maior seca já registrada na história”, afirma a nota.

A linha é a mesma adotada pelo governador ao longo do ano, de responsabilizar o clima. A nota diz também que as falas vazadas “seletivamente a dois dias das eleições”.