Temor de guerra civil ronda Egito às vésperas do aniversário da posse de Mursi
Violência, acentuada especialmente em Sharquia, na região norte do país, já dura cinco dias
Publicado 28/06/2013 - 18h40
Confrontos no Cairo entre oposição e apoiadores da Irmandade Muçulmana, que defendem legitimidade de Mursi
São Paulo – As autoridades egípcias manifestaram sua preocupação com a possibilidade de uma guerra civil, causada pela eclosão de manifestações de apoiadores e críticos do presidente Mohamed Mursi dias antes do primeiro aniversário de sua tomada de posse.
Hoje (28), o instituto muçulmano Al-Azhar, uma das maiores instituições sunitas do mundo, publicou comunicado dizendo: “Os egípcios têm de “estar alertas para não cairmos numa guerra civil”. Seis pessoas foram mortas e centenas ficaram feridas ao longo da semana e hoje foram reportados ataques a sedes da Irmandade Muçulmana no Cairo.
Os confrontos de hoje entre apoiadores da Irmandade Muçulmana, que defendem a legitimidade democrática de Mursi, e a oposição secular, que pede por sua saída imediata, deixaram dezenas de feridos e, em Alexandria, ao menos duas pessoas foram mortas, sendo um jovem norte-americano que fazia imagens dos protestos. De acordo com a agência oficial egípcia Mena, ele foi apunhalado no peito por desconhecidos, mas fontes da Segurança do Egito apontaram que a causa da morte poderia ser o impacto de um projétil.
A violência, acentuada especialmente em Sharquia, na região norte do país, já dura cinco dias. Para hoje, os apoiadores de Mursi tinham planejado o início de uma série de comícios em comemoração do aniversário da posse, no domingo (30). Também no domingo, os opositores marcaram uma marcha de protesto contra o presidente, mas vários manifestantes começaram a se concentrar hoje mesmo na praça Tahrir, no Cairo, onde prometem ficar até o início da marcha.
Os ativistas de oposição dizem que 15 milhões de pessoas assinaram uma petição pedindo a saída de Mursi, enquanto seus apoiadores dizem que têm 11 milhões de assinaturas a favor de sua permanência. Muitos opositores esperam uma “segunda revolução” e têm esperança de que o Exército intervirá para tomar o poder. As acusações contra o presidente egípcio são, principalmente, de incompetência e autoritarismo.
A Frente de Salvação Nacional, que une diversos grupos de opositores, exige a demissão do presidente e a realização de eleições antecipadas. “Estamos confiantes na adesão do povo egípcio às manifestações pacíficas em todas as praças e ruas do país”, disse, em comunicado oficial. A sua intenção é “corrigir o rumo e cumprir as aspirações da revolução de 25 de janeiro (de 2011)”, data em que começaram as manifestações que culminariam na queda do ex-presidente Hosni Mubarak.
Em pronunciamento televisivo na quarta-feira (26), o presidente disse que uma sociedade dividida ameaçava paralisar a economia e prejudicar o progresso do país. Ele foi eleito em um processo classificado como justo e livre pelas instituições internacionais e assumiu a presidência em 30 de junho de 2012, após um período de governo militar.
Seu primeiro ano de governo foi marcado por polêmicas políticas, por contestações, insegurança e degradação das condições econômicas do Egito. Em seu pronunciamento, Mursi admitiu os erros cometidos, mas defendeu seu mandato e prometeu reformas radicais.