Impasse

Ocidente tenta frear TikTok e impedir avanço de aplicativos chineses

Países liderados pelos Estados Unidos tentam banir aplicativos chineses. Questão envolve a geopolítica da corrida por tecnologia

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Embate faz parte de contexto de guerra híbrida mais moderna sem deixar de lado a velha geopolítica

São Paulo – O Ocidente está desconfiado em relação ao crescimento das redes sociais chinesas. Na sexta-feira (10), o primeiro-ministro da Bélgica, Alexander de Croo, anunciou o impedimento do TikTok de telefones de agentes públicos. Os Estados Unidos, por sua vez, tentam banir a rede social do país. De acordo com o Congresso local, a segurança informacional do aplicativo é “profundamente problemática”. Contudo, países ocidentais viram os olhos para a ausência de segurança jurídica individual em aplicativos do Vale do Silício. Especialmente da empresa Meta, responsável pelo Facebook e Instagram.

O embate faz parte de um contexto de guerra híbrida mais moderna sem deixar de lado a velha geopolítica. Empresas de tecnologia de todo o mundo correm para dominar um campo que parece ser parte de uma próxima revolução tecnológica profunda; a inteligência artificial. Dentro deste contexto, está a batalha pelos algorítmos mais eficazes para engajamento e manutenção do usuário on-line, o maior tempo possível alienado dentro de seu smartphone.

A China apresenta perspectivas de avanços neste setor que ameaçam o Ocidente. Relatos locais dão conta do uso destes aplicativos, inclusive, como forma de distribuição de renda. O Estado estimula a produção de conteúdo relevante, com benefícios financeiros, para os jovens que não encontram lugar em um mercado de trabalho cada vez mais restrito no capitalismo tradicional. Enquanto isso, as economias do capitalismo tardio apenas absorvem átonas as revoluções em curso.

Enquanto a realidade é imposta, as instituições ocidentais seguem temerárias. O conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, apoia publicamente um projeto de censura aos aplicativos não ocidentais no Congresso norte-americano. De acordo com ele, a matéria “permitiria aos Estados Unidos impedir que certos Estados explorassem serviços de tecnologia de forma que ameacem a confidencialidade dos dados de americanos e a segurança nacional”.

Argumentos

O argumento central da discussão política sobre os aplicativos nos Estados Unidos tem tons macartistas. Ventila-se, no Congresso, que as plataforma de origens chinesas conteriam “propaganda”. A hipótese de “corrupção” da juventude norte-americana não é nova. Trata-se de um argumento utilizado à exaustão, por exemplo, pela propaganda anticomunista no pós Segunda Guerra Mundial. De acordo com Pequim, o argumento não faz sentido.

Ao contrário, empresas chinesas avançam no mercado de capitais, o que ameaça de fato as grandes corporações norte-americanas no seio de seus domínios. A gigante asiática Shein, empresa de e-commerce de roupas chinesa que avança em todo o mundo, está prestes a abrir capital em Wall Street. Dentro dos Estados Unidos, a empresa já ultrapassou as vendas da Amazon, uma das maiores empresas norte-americanas, que conta com mais de 1,5 milhões de empregados e sustenta a fortuna de um dos homens mais ricos do mundo, o trilionário CEO Jeff Bezos.

Portanto, o campo de disputa que chega à superfície pode estar relacionado a uma conjuntura econômica mais complexa do que o evidenciado nos discursos políticos.

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