iberismo

Movimento cidadão propõe aproximação entre Portugal e Espanha

Idealizado por um técnico que trabalha no setor de gás há 42 anos, não contém experiência em cargos públicos e nem é afiliado a nenhum partido, o 'Movimento Partido Ibérico' aposta em uma mudança de postura entre ambos os países

wikipedia/cc

Lisboa – Na cidade portuguesa de Covilha nasceu um movimento cidadão que, entre outras propostas, defende a legitimação do “iberismo”, uma corrente política que defende a aproximação entre Espanha e Portugal e que aparece como curiosa alternativa no atual contexto de crise.

Idealizado por Paulo Gonçalves, um técnico que trabalha no setor de gás há 42 anos, não contém experiência em cargos públicos e nem é afiliado a nenhum partido, o “Movimento Partido Ibérico” aposta em uma mudança de postura entre ambos os países, já que, segundo o idealizador, “chegou o momento de as nações deixarem de dar as costas para se tornarem mais fortes e caminharem juntas”.

“Sempre estive pensando sobre, embora tenha decidido dar o primeiro passo em 2011, ano em que Portugal pediu o resgate. Escutei na rádio que a Comissão Europeia queria nos exigir juros mais altos que o próprio Fundo Monetário Internacional em troca de um empréstimo, e vi claramente que, com amigos como estes, quem precisaria de inimigos?”, explicou Gonçalves em declarações à Agência EFE.

Uma hipotética união entre os dois Estados que formam a Península Ibérica foi defendida ao longo da história por vários intelectuais, sendo o último deles o Nobel português José Saramago, cujas declarações sobre a integração de seu país natal em um maior, chamado “Iberia”, provocariam grande polêmica.

Este projeto, no entanto, não defende uma “fusão” entre ambos os países, mas sim uma maior integração, surgindo como iniciativa cidadã com o objetivo de se transformar em partido político a médio prazo.

De imediato, Paulo Gonçalves pretende apresentar a candidatura de sua entidade partidária em “duas ou três cidades” portuguesas nas eleições municipais do próximo mês de novembro.

Em busca de visibilidade, o movimento passou a explorar mais a internet, onde já existiam alguns fóruns especializados no chamado “iberismo”. Desta forma, um ano depois do lançamento do site do movimento, Gonçalves afirmou que conta com o apoio de quase 300 pessoas, com uma média equilibrada de espanhóis e portugueses.

Em seu “programa”, o movimento aposta no compartilhamento de ministérios entre Portugal e Espanha, o que poderia abrir espaço para uma unificação de suas políticas, com a exceção das áreas da Justiça, Interior e Defesa, as quais são consideradas independentes.

A criação de um banco central ibérico (capaz de emitir inclusive uma moeda comum no caso de um fracasso do projeto do euro) e a adoção de políticas integrais de natalidade, além do fomento do turismo para toda a península, são outras de suas propostas.

“O que defendemos não é utópico e, se o presidente do governo espanhol ou o primeiro-ministro português me chamasse hoje, poderíamos implementar estas medidas amanhã mesmo”, ressaltou o idealizador do movimento.

No entanto, o próprio Gonçalves reconhece que, tradicionalmente, a sociedade portuguesa se mostra contra qualquer aproximação oficial à Espanha, enquanto que, no país vizinho, as reservas “são menores” em sua opinião.

O fato de Portugal ter lutado militarmente para defender sua independência em várias ocasiões é um fator que pode justificar tal atitude, além do medo de perder a representatividade devido ao maior tamanho da Espanha, que tem uma população quatro vezes superior à portuguesa e uma economia seis vezes maior.

Do lado espanhol, Gonçalves acredita que o projeto ibérico chocaria com a força das correntes nacionalistas em várias comunidades autônomas, embora, de acordo com o idealizador, os independentistas “estão fazendo o trabalho sujo, já que uma Espanha fragilizada também prejudicaria Portugal”.

Para defender sua posição, Gonçalves compara a aproximação entre ambos os países com um casamento.

“Em um casal há duas pessoas diferentes, mas com um objetivo em comum. Para dar o primeiro passo, tem que surgir o amor, ou seja, um tem que aprender a gostar do outro”, afirmou.

“Isto é o que falta aos dois países; se conhecerem melhor para não terem medo, a origem de toda desconfiança”, sustentou Gonçalves ao contrariar um dito popular português: “Da Espanha, nem bom vento e nem bom casamento”.