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Esquerda alemã vence eleição pela primeira vez desde unificação em 1990

Parlamento do estado da Turíngia escolhe Bodo Ramelow, do partido Die Link', como ministro-presidente, cargo equivalente ao de governador

efe

Bodo Ramelow foi eleito nesta sexta-feira (5) governador da Turíngia

São Paulo – Pela primeira vez desde a reunificação da Alemanha, em 1990, um estado da federação será governado pela esquerda: o Parlamento da Turíngia escolheu nesta sexta-feira (5) Bodo Ramelow como novo ministro-presidente, cargo equivalente ao de governador. Ele é membro do partido Die Linke (“A Esquerda”), resultante da agremiação que governava a antiga Alemanha Oriental (RDA), o SED (sigla em alemão para Partido Socialista Unificado da Alemanha).

Ramelow substitui Christine Lieberknecht, que governou o estado por cinco anos e é do mesmo partido da chanceler Angela Merkel, a CDU (União Democrata-Cristã), de centro-direita.

A Turíngia, assim como o governo federal, funciona em um sistema parlamentarista — ou seja, o governador é escolhido pelo Legislativo local e tende a recair sobre o chefe do partido com maioria. A legenda de Lieberknecht teve, nas eleições de setembro, 33,5% dos votos, contra 28,2% do Die Linke – ou seja, ninguém conseguiu maioria absoluta.

A eleição de Ramelow só foi possível, no entanto, após quase quatro meses de duras negociações com o SPD (Partido Social-democrata da Alemanha), que é coligado com Merkel no plano federal, e com os Verdes. Os três partidos se uniram para, atingindo a maioria dos assentos no Parlamento, governar o estado.

O Die Linke costuma ir bem em eleições parlamentares no leste, em que não raramente supera o SPD, e praticamente desparece no oeste alemão. Na região oriental de Berlim — a antiga capital da Alemanha Oriental —, por exemplo, há distritos em que o partido elege representantes com folga para o Bundestag, o parlamento do país. A Turíngia é uma das regiões da antiga RDA, mas, mesmo com cidades importantes no território, não consegue competir economicamente com os estados ocidentais.

Na última eleição nacional, em 2013, o Die Linke foi a terceira agremiação mais votada, estabelecendo-se como a principal voz de oposição a Merkel.

Quem é Ramelow

A eleição na Turíngia torna Ramelow um importante player na política alemã. Nascido na Alemanha Ocidental, o novo chefe de governo só se mudou para a região comunista depois da reunificação, mas sempre esteve ligado a movimentos de trabalhadores. Ele foi eleito pela primeira vez como deputado pelo PDS (antiga sigla do Die Linke) em 1999.

Na década de 1980, ele passou a ser investigado pelo serviço de inteligência da Alemanha Ocidental por ligações com o então Partido Comunista, o DKP. Em 2006, foi descoberto que ele continuava a ser monitorado mesmo depois da eleição em 1999, quando, em tese, a investigação havia sido encerrada.

Repercussão

A escolha do novo governador foi recebida com comemoração pela esquerda alemã e com desconfiança pela direita. O chefe do Die Linke, Gregor Gysi (reeleito deputado por Berlim em 2013), afirmou que a eleição de Ramelow é um “sinal importante”. “Hoje é simplesmente um grande e bonito dia também na minha vida, devo dizer. Um dia que ainda estou vivendo”, disse ao noticiário local Tagesschau.

Andreas Scheuer, secretário-geral da CSU (Unão Social-Cristã), partido conservador muito forte na Baviera e espécie de ramificação da CDU, chegou a ligar Ramelow à Stasi, antiga polícia secreta política da Alemanha Oriental. “Com Ramelow, agora um agente de uma ex-conexão da Stasi, virou chefe de governo. Este é um dia de vergonha para a Alemanha reunificada”, afirmou. Não há provas da ligação do novo governador com a organização.

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