Disputa pelas Malvinas ainda coloca Argentina e Reino Unido em jogo de orgulho e conveniência

Para analistas, guerra atrasou negociações, que agora estão em um beco sem saída; autodeterminação dos moradores deverá ser considerada

São Paulo – Um mapa da América do Sul estampa um grande cartaz na entrada de um supermercado das ilhas Malvinas. No entanto, o espaço entre o Chile e as fronteiras do Uruguai, Brasil e Paraguai é preenchido em azul, sem delimitação com o sul do Oceano Atlântico, sob a inscrição “Shit Sea”. Um bar chamado “Victory” confeccionou canecas com a imagem, mas traduziu a provocação: “Mierda Sea”.

Confeccionadas especialmente às vésperas do aniversário da guerra, as mensagens deixam clara a posição majoritária entre os habitantes da capital Porto Stanley: não querem ser as Malvinas Argentinas e sim as Falklands britânicas.

Nesta segunda-feira (02/04), o conflito entre Argentina e Reino Unido pela soberania das ilhas completa 30 anos, em meio à escalada retórica dos últimos meses, que agora opõe a presidente Cristina Kirchner e o primeiro-ministro David Cameron. Os motivos são semelhantes aos que culminaram com o confronto militar de 1982: orgulho, soberania, nacionalismo e interesses políticos.

Há algumas décadas, somente um punhado de ingleses sabia onde ficava este pequeno arquipélago do Atlântico Sul, ocupado pela coroa britânica em 1833, após a expulsão dos espanhóis que colonizavam as ilhas. Logo após a vitória na guerra contra a Argentina pela soberania do território em 1982, as Malvinas (ou Falklands) passaram a fazer parte do singular imaginário político do Reino Unido.

Com cacife incrementado, o alvo de disputa de apenas 12 mil quilômetros quadrados tornou-se cartada de um jogo que, ainda hoje, envolve blefes, bacias inexploradas com suposto potencial petrolífero e discursos com ranço colonialista. A pauta, concordam analistas britânicos e argentinos, é uma solução diplomática que obrigatoriamente passa pela soberania dos seus 2,5 mil habitantes.

No final das contas, são eles que decidem: Malvinas ou Falklands? As recentes manifestações dos “kelpers”, como são chamados na Argentina, indicam que a segunda opção continua fortíssima. O jornal local, Penguin News, crítico à presidente argentina Cristina Kirchner, chegou a classificá-la de “bitch” em seu site, o que foi rapidamente retirado do ar.

Para o Reino Unido, o preço para manter as ilhas como território ultramarino é alto e a crise econômica bate à porta. A “era da austeridade” implantada pelo primeiro-ministro David Cameron, conservador como sua predecessora no cargo durante a guerra, Margaret Thatcher (1979-1990), aumentou impostos e cortou gastos, expondo uma fraqueza no poderio britânico e dando margem a especulações. Com um grande porém: negociar as Malvinas envolve questionar a validade de uma campanha que deixou 255 mortos e, conseqüência disso, rancor em centenas de famílias britânicas.

Leia aqui a reportagem na íntegra.

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