EUA e Rússia

Brasil espera que acordo leve a solução pacífica do caso sírio

Ministério das Relações Exteriores elogia disposição de al Assad de aderir a convenção da ONU e pede que isso encoraje outros países a seguir o mesmo caminho. Israel, aliado dos EUA, não é signatário

Antonio Pampliega/EFE

Crianças vendem doces na cidade síria de Alepo. Itamaraty prega que se mantenha via da negociação

São Paulo – O Ministério das Relações Exteriores emitiu nota de saudação ao acordo obtido entre Estados Unidos e Rússia para frear, ao menos por enquanto, um ataque militar contra a Síria. No comunicado, publicado ontem (14), o Itamaraty diz confiar que “tais medidas contribuirão significativamente para emprestar novo vigor à busca de uma solução negociada e para atender às legítimas aspirações da sociedade síria”.

Ontem, em Genebra, após três dias de negociações, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e pelo ministro de Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, firmaram um acordo que exige que a Síria apresente em uma semana um relatório completo sobre todas suas armas. Além disso, caso tenha armas químicas, o país deve se desfazer delas até a primeira metade de 2014, dando ritmo mais rápido que o comum à aplicação da convenção das Nações Unidas sobre o tema. A inspeção dos lugares de armazenamento e produção listados deverá ser concluída em novembro, bem como a destruição dos equipamentos de produção e mistura de substâncias tóxicas. O governo sírio aceitou de imediato as exigências e informou que os técnicos da ONU não terão dificuldades no trabalho de vistoria.

“O governo brasileiro acolheu, com satisfação, a decisão do governo da República Árabe da Síria de aderir à Convenção sobre a Proibição de Armas Químicas (CPAQ) e aplicá-la imediatamente”, diz o Itamaraty. “Como um dos signatários originais da Convenção, o Brasil espera que a acessão da Síria à CPAQ impulsione a universalização desse instrumento e leve à consecução do objetivo de um mundo livre de todas as armas químicas.”

Apenas oito países não aderiram até hoje à convenção. Um deles é Israel, antigo aliado dos Estados Unidos, que no geral se ancora nessa condição para deixar de cumprir acordos internacionais.

Ontem, logo após a assinatura do acordo, o presidente norte-americano, Barack Obama, emitiu nota saudando brevemente a disposição da Síria e reiterando as ameaças contra o governo de Bashar al Assad.

“Os Estados Unidos seguirão trabalhando com a Rússia, Reino Unido, França e as Nações Unidas, entre outros, para assegurar que este processo seja verificável e que exista consequências se o regime de Assad  não completar o acordo estipulado hoje. E, se a diplomacia falhar, os EUA seguem dispostos a atuar”, afirmou.

O presidente disse ainda que os Estados Unidos têm uma política de não tolerância diante do uso deste tipo de armas químicas – em 2003, o país invadiu o Iraque, e até hoje a domínio de armas químicas pelo regime de Saddam Hussein não foi comprovado. “Decidi que os Estados Unidos devem tomar medidas para impedir que o regime sírio utilize armas químicas, destruir sua capacidade para usá-las, e deixar claro ao mundo que não vamos tolerar seu uso”, acrescentou.

O ministro de Reconciliação da Síria, Ali Haidar, afirmou que o governo não apresentará oposição à atuação dos inspetores internacionais que supervisionarão o desmantelamento do arsenal químico de Damasco. “Acho que os inspetores internacionais poderão fazer seu trabalho, porque todas as instalações do governo não são apenas seguras, mas também acessíveis”, disse Haidar à Agência Efe. “A Síria necessitava de um alívio da pressão internacional. Queremos proteger nosso povo e não ser arrastados em direção a um conflito imprevisível com os Estados Unidos.”