Depois do brexit

Boris Johnson renuncia ao cargo de primeiro-ministro do Reino Unido

Isolado sob uma avalanche de crises, líder do Partido Conservador ficará no cargo até que substituto seja escolhido

Number 10 / CC
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Boris Johnson: saída agora se deve menos a um caso específico, mas ao acúmulo das controvérsias

São Paulo – O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, renunciou nesta quinta-feira (7) à liderança do Partido Conservador e deixará o cargo de primeiro-ministro, ficando como interino até que um novo premiê seja escolhido.

Boris Johnson ascendeu ao poder por meio de uma imagem de bufão, com os cabelos organizadamente desorganizados e gravatas tortas. Enfrentou uma avalanche de crises e foi abandonado por aliados. O processo para a escolha de um novo líder do Partido Conservador deve acontecer nos próximos meses. Esse movimento é rechaçado pela oposição trabalhista e por alguns membros de sua legenda.

“O processo de escolha de um novo líder deve começar”, disse Boris em frente ao número 10 de Downing Street. “E hoje indiquei um novo gabinete para governar, assim como eu farei até a escolha acontecer.”

Críticos haviam especulado que a derrocada aconteceria antes, mas, resistente, Boris sobreviveu a uma série de crises, e a saída agora se deve menos a um caso específico, mas ao acúmulo das controvérsias.

Do negacionismo diante do surgimento da Covid à descoberta de que sabia e nada fez para tirar um hoje acusado de assédio sexual da tarefa de garantir a disciplina parlamentar de seu partido, o ex-premiê deixa o cargo impopular e constrangido por aliados, como a debandada em série de seu governo mostra.

Nos últimos dias, dois secretários de peso, Rishi Sunak e Sajid Javid, das Finanças e de Saúde, puxaram a fila de renúncias, seguida por mais de 50 membros de sua gestão. A pressão cresceu na quarta (6), quando um grupo de pessoas próximas a ele, entre as quais outros ministros, foi até Downing Street para pedir que Boris enfim cedesse, encerrando um período de quase três anos à frente do Reino Unido.

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Eleito para entregar o brexit, a separação dos britânicos da União Europeia, o conservador cumpriu a promessa. Também foi o primeiro líder no mundo a entregar vacinas contra o coronavírus à população, numa virada que chegou a apagar os trancos iniciais, quando demorou a decretar lockdown e outras restrições, levando o país a ser um dos mais atingidos pela pandemia no continente.

Mas, de todos os rótulos, o que mais grudou foi o de mentiroso. O “partygate”, episódio no qual vazamentos em série revelaram festas na sede do governo num momento da Covid em que os ingleses estavam proibidos de se reunir em ambientes fechados, deixou explícita a maior crítica feita pela oposição e até por membros de seu partido, a de que negava fatos que sempre se revelavam verdadeiros.

Foram dezenas de comemorações, de festa de Natal a festa de aniversário — do próprio premiê. Funcionários do gabinete chegaram a realizar um convescote na véspera do funeral do príncipe Philip (1921-2021), o que depois gerou um pedido de desculpas de Boris à rainha Elizabeth 2ª.

Com informações da Folha de S.Paulo e G1