Desumano

Bombardeios em Rafah escancaram ‘propósitos genocidas’ do governo de Israel, diz ministro Silvio Almeida

ONU, Macron e líderes africanos também condenam governo de Benjamin Netanyahu, que desrespeita determinação de cessar-fogo do Tribunal de Haia e que já matou mais de 200 pessoas desde sexta-feira

Wafa Agency
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O ataque neste domingo (26) incendiou tendas e abrigos precários em um local considerado seguro

São Paulo – O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, condenou nesta segunda-feira (27), o ataque aéreo de Israel no domingo (26), que matou pelo menos 45 pessoas em um acampamento na cidade de Rafah, no Sul de Gaza. “Este evento não deixa dúvidas de que o governo de Israel comete crimes de guerra e que descumpre flagrantemente as decisões da Corte Internacional de Justiça. O assassinato brutal de civis palestinos – principalmente de mulheres e crianças – escancara os propósitos genocidas do governo israelense”, criticou o ministro.

Silvio Almeida cobrou ainda que a comunidade internacional “rechace com firmeza essa atitude criminosa”de Netanyahu. “E faça cumprir as determinações do sistema de justiça internacional”, concluiu em seu perfil na rede X. Oficialmente, o governo brasileiro não se manifestou. Mas a continuidade dos ataques estão atraindo a condenação de líderes de todo o mundo.

O mais recente bombardeio ocorre três dias após a Corte Internacional de Justiça de Haia, o principal tribunal da ONU, ordenar a suspensão imediata, por Israel, da controversa operação militar na cidade que é o último refúgio dos palestinos.

Apesar da decisão, o Exército de Israel continuou com os ataques. Desde sexta, até o momento, mais de 200 pessoas foram assassinadas com bombardeios em Jabalia, Nuseirat e Gaza City. De acordo com a Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA), as “mortes em massa” incluem mulheres e crianças.

‘Gaza é o inferno na terra’

O presidente da França, Emmanuel Macron, disse estar “indignado” com os ataques israelenses. “Estas operações devem parar. Não existem áreas seguras em Rafah para civis palestinos. Faço um apelo pelo pleno respeito ao direito internacional e por um cessar-fogo imediato”, cobrou. Israel faz parte da Corte Internacional de Justiça. E, além disso, as decisões do tribunal de Haia são legalmente vinculantes, ou seja, o governo de Netanyahu deve cumpri-la. O tribunal, porém, não possui um mecanismo para aplicá-las e elas foram ignoradas no passado.

A Corte tomou a decisão como parte do caso em curso movido pela África do Sul, que acusa Israel de genocídio. Os juízes anunciaram que dariam um mês para que o premiê mostrasse o que estava fazendo para cumprir as ordens. No entanto, a ofensiva militar seguiu e foi ampliada, segundo Israel, em resposta aos foguetes por parte do Hamas contra Tel Aviv, também no fim de semana. No comunicado emitido nesta segunda, a Agência da ONU para Refugiados afirmou que as cenas relatadas a partir de Rafah são “horríveis”. “Gaza é o inferno na terra. As imagens de ontem pela noite são mais uma prova disso”, alertou.

O ataque neste domingo (26), que incendiou tendas e abrigos precários, ocorreu no bairro de Tel Al-Sultan. No local, milhares de pessoas estavam abrigadas depois que as Forças Israelenses iniciaram uma ofensiva terrestre no leste de Rafah há mais de duas semanas. Segundo agências de notícias internacionais, mulheres choravam e homens faziam orações ao lado dos corpos em Rafah.

Rafah é queimada por Israel

“O mundo inteiro está testemunhando Rafah sendo queimada por Israel e ninguém está fazendo nada para impedir isso”, disse um morador de Rafah, Bassam, por meio de um aplicativo de mensagem. Em entrevista à CNN, ele contou que um dos bombardeiros foi feito em uma área do oeste de Rafah que havia sido designada como zona segura. Apesar de um clamor global pelo número de civis mortos, os tanques israelenses continuaram bombardeando as áreas leste e central da cidade hoje, matando mais oito pessoas, segundo autoridades de saúde locais.

O Egito também condenou o “bombardeio deliberado das tendas dos deslocados” pelos militares israelenses. O governo apontou uma “violação flagrante do direito internacional”. As críticas foram seguidas pelas autoridades do Egito e Catar e líderes europeus.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, confirmou para esta segunda uma reunião com ministros das Relações Exteriores do Oriente Médio e um representante da Liga Árabe. As autoridades devem debater a possibilidade de relançar uma missão suspensa desde 2007 para monitorar a passagem de pessoas da Faixa de Gaza para o Egito.

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Redação: Clara Assunção