Alemanha convoca embaixador dos EUA por espionagem a Merkel

Episódio soma-se a forte série de acusações de espionagem internacional praticada pela Casa Branca contra países

© EFE/Julian Stratenschulte

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, que pode ter tido celular espionado pelos EUA, exige explicações

São Paulo – A Alemanha convocou, nesta quinta-feira (24), o embaixador dos Estados Unidos em Berlim, devido às denúncias de que Washington espionou o celular da chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou uma porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão.

O chefe da diplomacia da Alemanha, Guido Westerwelle, vai se reunir pessoalmente com o enviado norte-americano John B. Emerson, no fim do dia, disse a porta-voz, numa iniciativa pouco habitual entre os dois aliados.

“É correto que o embaixador norte-americano foi convocado para uma reunião, esta tarde, com o ministro dos Negócios Estrangeiros Westerwelle. Nesta ocasião, a posição do governo alemão vai ser claramente exposta”, acrescentou a mesma porta-voz, confirmando informações divulgadas na edição online da revista Der Spiegel.

O caso da suposta espionagem foi revelado pela chancelaria alemã na véspera. A Casa Branca, por sua vez, negou a acusação. Os EUA estão enfrentando, nos últimos meses, uma série de acusações de espionagem internacional, após o vazamento de documentos feito pelo ex-consultor da NSA (agência de segurança nacional) Edward Snowden, atualmente asilado na Rússia.

Mais recente “vítima” revelada, Merkel ligou na quarta-feira para o presidente dos EUA, Barack Obama, para exigir uma explicação, mas o presidente norte-americano garantiu que Washington “não espiona nem espionará suas comunicações”. A chanceler afirmou que, se a informação fosse confirmada, ela consideraria algo “totalmente inaceitável” e seria um “golpe duro” para a confiança entre os países.

“Se for verdade o que estamos ouvindo, será realmente grave”, ressaltou hoje em entrevista à televisão pública alemã o ministro da Defesa, Thomas de Maizière. “Os americanos são e continuarão sendo nossos melhores amigos, mas isso é inaceitável”, ressaltou o ministro. Segundo o titular da pasta, há anos ele dá como certo que escutam suas conversas no celular, mas nunca havia pensado que os EUA fariam isso.

A Comissão Parlamentar de Segredos Oficiais, encarregada de controlar o trabalho dos serviços de inteligência, realizará nesta tarde uma sessão extraordinária “Quem espiona a chanceler espiona também os cidadãos”, manifestou o presidente da Comissão, o social-democrata Thomas Oppermann, que considerou que as atividades da NSA está à margem de todos os controles democráticos.

Imprensa

Para a imprensa alemã, as informações sobre a possível espionagem do celular de Merkel são um golpe duro para a chanceler. Os jornais lembram que desde o início das revelações sobre a espionagem da NSA, Merkel teve uma atitude de compreensão.

“O governo americano reagiu de maneira ofensiva, afirmando que tudo é normal, tudo é necessário, tudo é útil, tudo se sabe, tudo é legal. A Alemanha se mostrou até agora mais defensiva e Merkel se ridicularizou”, afirma o jornal Tagesspiegel.

Merkel declarou há alguns meses, em uma entrevista a um canal de televisão, que tinha certeza de que não era alvo de espionagem americana. “Os EUA traíram o melhor aliado no caso”, afirma o jornal Die Welt

* Com reportagens da Agência Efe