posse

‘Ainda temos muito a fazer’, diz Correa ao iniciar terceiro mandato no Equador

De acordo com o presidente, sua gestão está mudando as relações de poder no país

©cecilia puebla/efe

Correa e a presidente do Parlamento, Gabriela Rivadeneira, durante a posse

São Paulo – O presidente do Equador, Rafael Correa assumiu hoje (24) um novo período de quatro anos, em cerimônia com delegações de cerca de 90 países e dez chefes de Estado. Correa foi reeleito em fevereiro com 57% dos votos no primeiro turno, com ampla vantagem sobre o segundo colocado, Guillermo Lasso, que obteve 22% dos votos. De acordo com a pesquisadora Perfiles de Opinión, a aceitação por 84% da população se deve em grande parte aos avanços no campo da economia.

“Temos avançando muito, e o país já é totalmente diferente do que recebemos há seis anos, mas ainda temos que fazer muito”, afirmou Correa. Ele ressaltou que sua gestão “mudará as relações de poder” no país. “Estamos orgulhosos por sermos o país que mais reduz a desigualdade na América Latina”, disse na posse.

Economista, formado nos Estados Unidos, Correa é um dos representantes mais ativos da chamada Aliança Bolivariana, criada e idealizada pelo presidente venezuelano Hugo Chávez, falecido em março. Além de conquistar mais um mandato, o movimento governista, Aliança País, ficou com cem das 137 cadeiras da Assembleia Nacional. Estiveram presentes à cerimônia em Quito os presidentes do Irã, Mahmoud Ahmadinejad; da Venezuela , Nicolás Maduro; do Peru, Ollanta Humala; da Bolívia, Evo Morales e da Colômbia, Juan Manuel Santos.

Conforme indica a Agência Andes, o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) foi recorde em 2011, de 8%, enquanto o de 2012 atingiu 4,8%. A média na América Latina é de 3,1%. O bom desempenho econômico gerou uma redução da desigualdade social no país: em 2006, a parcela mais rica da população ganhava 37 vezes mais que a mais empobrecida; em 2012, essa relação diminuiu a 26 vezes.

No começo de seu governo, Correa declarou que o Equador “saía das trevas do neoliberalismo” e que se passava “de uma época de mudança para uma mudança de época”. O pais se somou ao grupo de governos progressistas da America Latina, que incluiu o ingresso do pais à Alba.

Foi convocada uma Assembleia Constituinte, de forma similar à Bolivia, e se passou à construção de um novo Estado, republicano, multiétnico, multicultural, cidadão. O processo de transformações liderado por Correa passou a se chamar “Revolução Cidadã” e começou a organização de um partido, o Aliança País.

Na administração Correa, o Equador se tornou o primeiro país da região a fazer uma auditoria da dívida externa. A análise determinou que boa parte desse valor era ilegítimo, levando o país a propor aceitar somente algo entre 25% e 30% do valor dos títulos da dívida externa comercial.

Aqueles detentores de títulos que não concordassem com a proposta teriam que recorrer à justiça, apresentando as suas petições contra o Equador. Face às provas contundentes de ilegalidade da dívida, 95% dos credores aceitaram a proposta. A renegociação da dívida gerou uma economia de oito bilhões de dólares.

Depois de confrontado o problema da dívida pública equatoriana, os investimentos em saúde e educação quadruplicaram. O nível de desemprego caiu no ano passado a uma taxa de 4,2%, a mais baixa na história do país. Pela primeira vez, a pobreza extrema está em um dígito (9,4%), o que é praticamente a metade do valor observado no início do governo de Correa, quando 16,9% da população estava na miséria absoluta. A essa política soma-se a eliminação do trabalho infantil, que retirou mais de 450 mil meninos e meninas dessa situação nos últimos cinco anos.

Comunicação

Outra marca do governo Correa foi a busca da democratização da comunicação. Um projeto de lei da Lei Orgânica de Comunicação tramita atualmente no parlamento local. Dentre os principais pontos do projeto, está a redistribuição do espaço radioelétrico.

Até agora, cerca de 85,5% das frequências radiofônicas são privadas, 12,9% públicas e 1,6% comunitárias, segundo a Superintendência das Telecomunicações. No caso da televisão, 71% são privadas e 29% públicas. Com a regulação, 33% do espaço será ocupado por estes meios, enquanto 33% serão destinados a veículos públicos e 34% aos comunitários.

Após ser reeleito, Correa prometeu empenho para uma lei de imprensa. “Busquemos uma nova Lei de Comunicação, que regule os claros excessos que tem certa imprensa. O que queremos é uma imprensa honesta e responsável”, afirmou. “A América Latina tem uma das piores imprensas do mundo”, completou.

Desde sua chegada, Correa começou a desenvolver uma rede de meios públicos de comunicação, integrada pelos diários estatais El Telégrafo e PP El Verdadero, a Andes, Equador TV e a Rádio Pública. Uma rede através da qual Correa enfrenta a “grande imprensa” – assim a chama –, formada pelos diários de maior peso na opinião pública, El Universo e El Comercio, e os canais de TV Ecuavisa e Teleamazonas, que sustentam uma linha editorial opositora.