A repressão aos trabalhadores do Frigorífico Anglo de Barretos

Como os empresários e o governo se uniram para disciplinar os operários, segundo a história

Os trabalhadores de frigorífico na década de 1930 (Foto: Arquivo do Museu Ruy Menezes)

A professora Célia Aiélo  estudou o perfil dos operários do Frigorífico Anglo, de  1927 a 1935. A tese, apresentada ao Departamento de História da Unicamp, está disponível na biblioteca virtual da universidade.

Ela conta que, em 1927, 40% dos trabalhadores da indústria eram lituanos, portugueses, alemães, iugoslavos, sírios e italianos. A contratação dava-se no portão da fábrica, sem exigência de qualificação. Havia grande rotatividade de mão-de-obra. Aos grevistas era impossibilitado o retorno. 

Em 1931 houve uma greve porque os brasileiros temiam ser trocados por estrangeiros. Os operários pararam em 22 de janeiro. Houve piquetes e confusão. Com a chegada de reforços de cidades vizinhas, registraram-se feridos e presos. Segundo o jornal da época A Semana, os grevistas exigiam aumento de salários, oito horas de trabalho diário e remuneração extra pelo serviço noturno. Quatro operários do Anglo negociavam as reivindicações, chefiados por José Eugênio de Carvalho, chefe da Legião Revolucionária do Frigorífico, demitido por causa de sua liderança. O delegado de polícia, Hugo Ribeiro da Silva, ainda argumentou que o trabalhador era uma pessoa pacífica e questionou a postura do gerente geral Mr. Cunningham em despedir os envolvidos na greve. Cópias das fichas de registro dos operários foram enviadas à Polícia Política pelo superintendente do frigorífico, A.M. Moore – havia também uma preocupação da polícia política com a União Operária Camponesa do Brasil, presente em cidades como Barretos, Campinas, Ribeirão Preto e Bauru. 

Em 1934, depois de nova ameaça de greve, o Frigorífico atendeu o Sindicato e deu 30% de aumento sobre as horas extras, 1$000 réis como pagamento mínimo por hora e definiu um novo ponto na linha do trem para os operários. Na época, a Polícia Política investigava o Sindicato dos Operários do Frigorífico e o Sindicato da Construção Civil de Barretos, por envolvimento com comunistas. 

O Anglo

 
A história da indústria frigorífica no Brasil começa em 1913 com a Companhia Pastoril de Barretos que, no ano seguinte, tinha 350 operários. Na época, havia vida social na vila do frigorífico, com casas que abrigavam os operários. Em 1917, uma sociedade recreativa oferecia bailes, sessões cinematográficas e havia até uma escola municipal. Acabou vendido, em 1919, à Companhia Mechanica e Importadora de São Paulo e, em 1923, para a empresa Brazilian Meat Company, que se tornaria mais tarde a S/A Frigorífico Anglo.