Justiça fiscal global

No G20, economista propõe ao menos 2% de imposto para super-ricos

“É uma taxa baixa, mas ainda faria uma diferença muito grande. Mas acredito que podemos ser mais ambiciosos”, defendeu Gabriel Zucman, diretor do Observatório Fiscal da União Europeia

Paulo Pinto/Agência Brasil
Paulo Pinto/Agência Brasil
Imposto global sobre os super-ricos alcancaria cerca de 3 mil pessoas e arrecadaria cerca de US$ 250 bilhões por ano

São Paulo – O economista francês Gabriel Zucman, diretor do Observatório Fiscal da União Europeia, apresentou nesta quinta-feira (29) aos ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais do G20 a proposta de aplicação de uma alíquota mínima de 2% imposto sobre os super-ricos. Ele participou do encontro, em São Paulo, a convite do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A construção de um imposto global para os bilionários é uma das bandeiras do Brasil, que está à frente do bloco neste ano.

“Fiz a proposta de uma cobrança mínima de 2% sobre a riqueza de bilionários. É uma taxa baixa, mas ainda faria uma diferença muito grande. Mas acredito que podemos ser mais ambiciosos do que isso”, disse Zucman.

Segundo ele, há 3.000 pessoas em todo o mundo aptas a contribuir com esse tipo de imposto. Com a alíquota mínima, a tributação sobre os super-ricos arrecadaria cerca de US$ 250 bilhões (R$ 1,2 trilhão) anualmente.

“Todos podem concordar que não é aceitável que bilionários tenham uma alíquota menor do que a cobrada do resto do mundo e todos podem concordar que a tributação não deveria ser regressiva”, disse o francês.

O economista declarou que as conversas sobre a criação de um imposto global estão ainda em estágio inicial. Porém, ressaltou que podem avançar positivamente no decorrer dos próximos meses, inclusive com a possibilidade de estabelecer uma taxa progressiva.

Cobrança no país

Para que os bilionários não mudem de país para fugir da tributação, ele propõe que o pagamento ocorra por algum tempo pelo país onde viveram ou construíram suas fortunas.

“Podemos dizer, por exemplo, que parte das receitas poderia ir para os países onde os bilionários vivem ou viveram durante alguns anos, porque afinal eles podem ter se beneficiado dos ativos daquele país, de suas construções ou de sua indústria, por exemplo”, afirmou. “Ou então que seja feita uma distribuição da receitas desses impostos, já que muitos bilionários têm negócios em várias partes do mundo.”

Zucman é discípulo e parceiro de trabalhos de Thomas Piketty, teórico da desigualdade e autor do best-seller O Capital no Século XXI, que analisa a trajetória de concentração de renda e riqueza ao redor do mundo.

Também é é coautor de The Triumph of Injustice (O Triunfo da Injustiça, ainda sem tradução no Brasil). A obra discute como os ricos pagam poucos impostos e o que deve ser feito para que eles sejam mais taxados. Além disso, foi o vencedor do prêmio John Bates Clark de 2023, voltado a jovens economistas.

Ontem, na abertura da reunião de ministros de Finanças do G20, Haddad também defendeu a taxação global dos super-ricos. Para ele, a tributação progressiva é um tema central para a construção de um mundo mais justo. “Reconhecendo os avanços obtidos na última década, precisamos admitir que ainda precisamos fazer com que os bilionários do mundo paguem sua justa contribuição em impostos”, afirmou.