Mercado de trabalho, ‘patrimônio do Brasil’, mantém estabilidade; salário cai

Técnicos da Fundação Seade e do Dieese alertam para riscos ao mercado interno, que ajudou a superar crise, e criticam pensamento conservador

São Paulo – O mercado de trabalho nas regiões metropolitanas mostrou estabilidade em abril, segundo a Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), mas os técnicos chamam a atenção para possíveis riscos causados pelo excesso de pensamento conservador na economia. “É fácil provocar recessão. Difícil é sair. O Brasil tem um patrimônio, que é um mercado de trabalho que se fortaleceu”, afirmou o coordenador de análise do Seade, Alexandre Loloian. “O que fez com que a gente passasse pela crise foi a capacidade de consumo do mercado interno”, acrescentou a economista Patrícia Lino Costa, do Dieese, que adicionou uma pergunta: se os salários caem há cinco meses, como podem ser culpados pela inflação?

De acordo com a pesquisa mensal divulgada nesta quarta-feira (25), a taxa média de desemprego nas sete áreas pesquisadas (Distrito Federal e regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo) ficou em 11,1% em abril, praticamente estável em relação a março (11,2%), mas dois pontos percentuais abaixo de abril de 2010 (13,3%). Na principal região metropolitana, a de São Paulo, a taxa foi de 11,3% para 11,2%, também dois pontos a menos em 12 meses (13,3%) e no menor nível para o mês desde 1990 (10,6%).

O resultado de abril foi uma combinação entre um pequeno crescimento da ocupação (0,4%), pouco acima do aumento da população economicamente ativa, a PEA (0,3%). De março para abril, 75 mil pessoas ingressaram na PEA, enquanto o mercado criou 77 mil ocupações. O número de desempregados foi estimado em 2,450 milhões, estável no mês. Em relação a abril do ano passado, são 492 mil desempregados a menos (queda de -16,7%) e 432 mil ocupados a mais (aumento de 2,3%).

O crescimento da ocupação em 12 meses vem perdendo força desde setembro do ano passado. Naquele mês, a expansão foi de 4,7%, e em abril chegou à metade (2,3%). A economista do Dieese lembra que o resultado de 2010 considerava também uma base fraca, a de 2009, que ainda refletia certo impacto da crise internacional. A tendência é que a ocupação cresça um pouco mais, principalmente no segundo semestre.

Em São Paulo, a PEA encolheu na comparação anual – um comportamento atípico, lembrou Loloian. “Não é comum ter variação negativa da PEA em 12 meses. Só aconteceu em 1990 e 1994”, afirmou. Em relação a abril de 2010, a PEA recuou 0,4% (47 mil a menos), enquanto a ocupação aumentou 2% (183 mil a mais) e o número de desempregados caiu 16,1% (230 mil), atingindo 1,197 milhão. “Não estamos em um novo patamar, mas efetivamente não estamos mais naquele desastre da década de 1990.” Em São Paulo, o tempo de procura por emprego caiu para 30 semanas – chegava a 35 um ano atrás.

Ainda na comparação anual, a taxa média de desemprego caiu em todas as regiões pesquisadas. Essa queda foi mais expressiva em Recife, onde a taxa recuou 26,6% e atingiu 13,8%. Na região metropolitana de Porto Alegre, a queda de 22,9% levou a uma taxa de 7,4%. Houve recuo de 18,2% em Belo Horizonte, para 13,6%, e de 17,4% em Salvador, para 15,7%.

Das 432 mil ocupações a mais em 12 meses, o destaque é o setor de serviços, com 470 mil (expansão de 4,6%). A indústria teve crescimento tímido (1,2%), abrindo 35 mil, enquanto a construção civil abriu 37 mil (expansão de 3%). O comércio ficou praticamente estável (-0,3%, com 11 mil vagas a menos), enquanto o item “outros”, que compreende principalmente o emprego doméstico, caiu 6,2% (-99 mil).

Com menos ímpeto, o mercado segue criando vagas com carteira assinada. Nas sete regiões, o emprego formal cresce 4,4% em 12 meses, o equivalente a 481 mil ocupações a mais. Os assalariados com carteira (9,497 milhões) já representam 49% do total de ocupados (19,532 milhões).

O dado negativo foi a queda do rendimento médio dos ocupados pelo quinto mês seguido. No caso de São Paulo, a massa de rendimentos (que considera a ocupação e os salários) cai há três meses. “É isso (o mercado de trabalho) que tem segurado o nível de atividade”, observou Loloian, criticando o fato de o combate à inflação não levar em consideração o fator emprego. “Esperamos que os nossos police makers (formuladores de políticas) sejam sábios.”