Luta de classes

Haddad contra Campos Neto: um duelo pela justiça fiscal

Enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou a intenção de tributar fundos dos Super-Ricos, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, cogita privatizar a gestão das reservas brasileiras

Diogo Zacarias/MF/Raphael Ribeiro/BC
Diogo Zacarias/MF/Raphael Ribeiro/BC
Além dos juros abusivos, Campos Neto se envolveu em nova polêmica nesta semana

São Paulo – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou nesta semana que o governo vai enviar ao Congresso Nacional um projeto de lei para tributar os fundos exclusivos, conhecidos como fundos dos super-ricos. O ministro anunciou oficialmente a medida na última quarta-feira (19), após reunião com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur lira (PP-AL). O encontro serviu para “acertar a pauta do segundo semestre”.

Ainda na segunda, ele havia se manifestado sobre o tema, em entrevista à jornalista Mônica Bergamo, no jornal Folha de S.Paulo. “Como um país com tanta desigualdade isenta o 1% mais rico da população? Qual vai ser o dia em que nós vamos olhar para o problema e resolvê-lo?”, questionou o ministro, ao tratar da intenção de tributar os fundos exclusivos.

A campanha Tributar os Super-Ricos celebrou a medida como um “começo” na busca por justiça fiscal no país. As mais de 70 organizações sociais, entidades e sindicatos que compõem o movimento, no entanto, querem mais.

“De um lado, o Governo Federal, com apoio do povo trabalhador, disposto a tributar os investimentos dos ricaços. É um começo. Mas queremos mais: que os lucros e dividendos e as grandes fortunas sejam também tributados para reduzir os tributos dos trabalhadores”, diz a publicação da campanha nas redes sociais.

“Entregando o ouro”

Ao mesmo tempo, a campanha chama a atenção para outro fato que ocorreu nesta semana, que aponta para o sentido contrário. À firma norte-americana BlackRock, gestora de fundos trilionários, ele afirmou que estuda terceirizar a gestão de ativos brasileiros. A entrevista ocorreu em 13 de julho, mas veio à tona nesta semana. Sob controle do BC, as reservas internacionais do Brasil somam cerca de US$ 380 bilhões de dólares (R$ 1,8 trilhão aproximadamente).

“A gente está aberto a essa terceirização, gestão externa vamos dizer… Hoje a grande parte da gestão não é terceirizada, mas a gente está aberto a fazer isso nessa área, principalmente, porque a gente está olhando agora para novas classes de ativos”, disse Campos Neto.

“De outro, o presidente do Banco Central querendo mandar nossas reservas para os fundos internacionais de gestão. Roberto Campos Neto quer entregar o ouro aos bandidos! Manter os altos juros só vai beneficiar os Super-Ricos!”, criticou a campanha.

À exceção do sistema financeiro, Campos Neto vem sendo alvo de críticas de amplos setores da sociedade brasileira. Isso porque, desde agosto de 2021, o BC mantém a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano. A expectativa é que o primeiro corte de juros ocorra em agosto, durante reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. No entanto, o temor é que a redução seja de apenas 0,25 ponto percentual, o que pouco aliviaria o aperto monetário.

Luta de classes

Para a campanha Tributar os Super-Ricos, o Brasil está vivendo “na carne” uma faceta duríssima da luta de classes, que é a busca por justiça fiscal. Assim, a personagem Niara, uma menina negra criada pelo cartunista Aroeira, colocou Haddad e Campos Neto como adversários nessa disputa. Enquanto um tenta reduzir a distância entre os super-ricos e a maioria da população brasileira, o outro trabalha justamente em defesa dos interesses da elite financeira do país.