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Falta política para atrair indústrias em São Paulo, critica dirigente metalúrgico

Wellington Damasceno, que esteve recentemente na China, disse que diálogo com prefeitura de São Bernardo também só acontece quando alguma empresa anuncia que vai fechar: “Aí o leite já derramou”

Reprodução/TVT
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Damasceno também relatou a grandeza das indústrias da China, após visita ao gigante asiático

São Paulo – Para o diretor administrativo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wellington Messias Damasceno, faltam políticas públicas para atrair e manter indústrias no estado de São Paulo. Em entrevista ao ao TVT Cidades, nesta terça-feira (2), ele ressaltou a importância do setor industrial para os municípios paulistas. No entanto, sem citar nomes, criticou o governo estadual por inércia em relação ao tema.

“Na verdade, a gente tem uma fuga de empresas do estado de São Paulo e não estamos repondo. Muito pelo contrário. Tivemos uma reunião com uma montadora chinesa que está se instalando aqui no estado, e a conversa foi muito dura”, relatou Damasceno. “Eles estavam reclamando muito da postura do governo de São Paulo, que não atende, não recebe, que não entende as demandas, enquanto outros estados estão abertos, oferecendo todo o tipo de facilidade”, acrescentou.

Nesse sentido, ele afirmou que outras unidades da federação não apenas auxiliam na instalação de novas empresas, avançando na desburocratização, como também mantêm diálogo mais estreito com o governo federal, com o objetivo de atrair mais investimentos. Por outro lado, São Paulo retrocedeu nessa questão, segundo ele.

Do mesmo modo, ele reclamou da falta de diálogo com a prefeitura de São Bernardo do Campo. “É muito institucional e normalmente só funciona quando alguma empresa vai fechar. Aí o leite já derramou.”

Experiência negativa durante o “desgoverno”

Pior ainda, segundo ele, foi atuação do governo Jair Bolsonaro em relação às indústrias automobilísticas, quando, por exemplo, a Ford anunciou que iria deixar o país, em 2021. “Fomos recebidos pelo vice, um general (Hamilton Mourão). E ele falou: ‘É uma decisão de negócios, se a empresa acha que não está lucrando, tem que ir embora mesmo’. Ele só esqueceu que a Ford veio para o Brasil recebendo benefícios, se manteve utilizando incentivos ao longo de todo o período”, criticou Damasceno.

O sindicalista ainda ressaltou que a montadora estadunidense saiu do Brasil, mas continua usufruindo do mercado brasileiro. Recentemente, o responsável pelas operações da empresa na América do Sul anunciou que a empresa voltou a registrar lucros no mercado nacional. “Só que eles não produzem mais um parafuso. Não gera mais um emprego no Brasil. Qual é o recado que ela manda para as outras empresas que ainda estão no Brasil?”, questiona Damasceno.

Experiência chinesa

No mês passado, uma delegação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC visitou a China. Foram nove dias de visitas a montadoras, indústrias de autopeças e de energia. Eles também mantiveram contato com representação dos metalúrgicos chineses. A federação local representa 400 milhões de trabalhadores no setor. Ao mesmo tempo, a comitiva foi recebida por Dilma Rousseff, presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) – conhecido como o “banco do Brics”.

“O primeiro passo foi verificar in loco como é a produção, a montagem e as diferenças entre um veículos híbridos e elétricos. Qual o impacto sobre os trabalhadores, e como aconteceu a transição numa empresa que produzia veículos a combustão e passou a produzir eletrificados”, relatou Damasceno. “E também fomos conversar com algumas empresas que já nos procuraram no Brasil, e outras que sinalizaram interesse de vir para o país.”

Ele disse que ficou impressionado com a pujança dos setores de infraestrutura e construção civil no gigante asiático. Nesse sentido, ressaltou que a ampliação desse tipo de investimento no Brasil pode estimular inclusive o setor industrial. “São investimentos que melhoram a vida da população, mas que mexem com toda a estrutura da cidade, do estado e do país, aumentando a demanda. Isso vai mexer lá com a região do ABC no final. A gente vai produzir mais ônibus, mais carros, o setor metalúrgico vai produzir mais aço, mais ferro.”


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