Mesmo com diploma

Dificuldade de inserção faz pessoas com ensino superior procurarem áreas que não exigem essa escolaridade

Levantamento mostra que eles passam a atuar como vendedores, balconistas, escriturários, técnicos de enfermagem e motoristas de aplicativo

Reprodução
Reprodução
Em torno de 86 mil motoristas de aplicativos, de um total de 704 mil, tinham ensino superior. Entre os entregadores de comida e produtos, eram 70 mil, de 589 mil

São Paulo – O número de ocupados com ensino superior completo cresceu 15%, entre 2019 e 2022, mas segundo o Dieese “o crescimento foi maior em ocupações que não exigem esse nível de escolaridade”. Pesquisa divulgada pelo instituto busca refletir sobre a dificuldade desse grupo encontrar trabalho compatível, “devido aos problemas estruturais da economia brasileira, que apresenta crises recorrentes e baixo crescimento, especialmente nos últimos anos”.

Assim, por exemplo, o percentual de pessoas com ensino superior trabalhando como balconista ou vendedor de loja aumentou 22%. Já o número de pessoas com essa escolaridade trabalhando como profissionais de nível médio de enfermagem cresceu 45%. A base de dados é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE.

Atividades não típicas

Segundo o boletim Emprego em Pauta, divulgado pelo Dieese, “é possível afirmar que praticamente metade do crescimento da ocupação para pessoas com ensino superior completo ocorreu em atividades não típicas para essa formação”. Elas foram trabalhar como escriturários, comerciantes, balconistas, secretários, profissionais da área de beleza.

Em torno de 86 mil motoristas de aplicativos (exceto táxis), de um total de 704 mil, tinham ensino superior completo no quarto trimestre de 2022. Entre os entregadores de comida e produtos, eram 70 mil, de 589 mil.

“Entre as pessoas de baixa renda com nível superior, 61% estavam em ocupações não condizentes com essa escolaridade, enquanto entre os mais ricos, 71% estavam em posições compatíveis como esse nível de ensino”, aponta o levantamento do Dieese.

Quase 4 milhões a mais

O crescimento de 14,9% de pessoas em idade ativa (a partir dos 14 anos) com ensino superior completo, do quarto trimestre de 2019 para igual período de 2022, corresponde a 3,7 milhões de pessoas a mais. Foi a maior alta percentual entre todas as faixas de escolaridade. E o número de ocupados aumentou 15,5%, ante 7,1% entre aqueles que tinham ensino médio completo ou superior incompleto.

Na faixa de ensino fundamental incompleto a médio completo, a variação foi de -0,2%. E a ocupação cai 7,6% entre os trabalhadores que tinham até fundamental incompleto.

Rendimento diminui

A maior presença de pessoas com ensino superior completo entre os ocupados não se traduziu em alta do rendimento. Pelo contrário, a variação no período foi de -0,5%. Entre os que tinham ensino médio completo, a queda foi de 2,5%. No caso daqueles com ensino superior completo, o recuo foi ainda maior, de 8,7%.

Leia também: Pandemia traz à tona a desigualdade na educação, problema que dificulta o acesso ao mercado de trabalho

“Os dados aqui apresentados não devem servir como desestímulo para que membros de famílias de baixa renda cursem o ensino superior, mas, sim, para a discussão da necessidade de dinamizar e adensar a economia brasileira a fim de gerar postos de trabalho mais complexos”, conclui o Dieese. “Além disso, as informações mostram a necessidade de políticas públicas de financiamento para pessoas de baixa renda e que impulsionem o acesso delas às melhores universidades.”

.