Letras e trevas

‘Motosserra’ de Milei chega a programa de apoio à tradução de escritores argentinos

Segundo jornal argentino, orçamento caiu de US$ 320 mil para menos de US$ 20 mil. “O único motivo é a ignorância”, diz gestora cultural

Reprodução/Montagem RBA
Reprodução/Montagem RBA
Borges e Sabato estão entre os inúmeros autores que tiveram obras traduzidas por meio de política pública

São Paulo – O governo Javier Milei voltou sua ação também para a área e cultura. E uma das medidas consiste em “reduzir brutalmente”, como define o jornal Página/12, o chamado Programa Sur, de apoio a traduções de autores argentinos. É uma política pública, implementada há 15 anos pela Direção Nacional de Promoção da Cultura, Educação e Ciência (DiCul), vinculada ao Ministério das Relações Exteriores.

“Difundimos e promovemos a cultura argentina no exterior”, anuncia o DiCul em sua página no Facebook. Assim, desde 2009, o programa subsidiou mais de 1.800 traduções de autoras e autores argentinos em mais de 50 idiomas. O que inclui desde os clássicos (Jorge Luis Borges, Julio Cortázar Ernesto Sabato, Aoeljandra Pizarnik) a contemporâneos.

Assim, no ano passado o programa teve orçamento equivalente a US$ 320 mil, valor suficiente para subvencionar 123 traduções. Agora, de acordo com informações obtidas pelo Página/12, o Sur terá menos de US$ 20 mil, quantia que poderá minguar ainda mais devido à inflação. Uma operação de “motosserra”, afirma o periódico.

O programa foi criado para promover obras literárias argentinas quando a Argentina foi convidada de honra da Feira do Livro de Frankfurt, em 2010. Agora, como lembra o periódico, se alguém entra em contato com a DCul receberá a seguinte resposta: “Não há orçamento em execução para o Programa Sur”. Ou, como dizem os argentinos, no hay plata. A página do programa também não está disponível na internet.

Ex-diretora de Assuntos Culturais, a escritora e gestora cultural Paula Vázques afirmou que “o único motivo para reduzir o investimento que retorna multiplicado várias vezes é a ignorância”.