Cultura resiste

Mostra Internacional de Cinema de São Paulo segue forte, mesmo sem patrocínio público

Apesar dos contratempos, evento apresentará seleção concisa e de qualidade, com 223 filmes, 73 brasileiros e 130 estrangeiros

Divulgação
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O cartaz deste ano (tão esperado pelos mostreiros todos os anos), é assinado pelo muralista e expoente da arte brasileira Eduardo Kobra

São Paulo – Mais tradicional evento do audiovisual na maior cidade do país, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que começa na próxima quinta-feira (20) e vai até 2 de novembro, encontrou desafios para manter sua relevância. Essencial em edições anteriores, neste ano a Mostra ocorre sem patrocínio público. Instrumentos como Lei Rouanet, e ProAC não apoiam mais o evento, o que tirou, por exemplo, a parceria histórica com a Petrobras. A programação completa da 46ª edição está no site da Mostra.

Apesar dos contratempos, o evento apresentará uma seleção de alta qualidade, com 223 filmes – 17 poderão ser assistidos pela internet. Muitos dos filmes são inéditos no país, mas também estão presentes obras premiadas internacionalmente. Como de costume, a Mostra Internacional de Cinema de Sao Paulo antecipa para os cinéfilos grandes vencedores de festivais como Cannes, Veneza e Berlim. A potência da Mostra também fica evidente em sua arte. O cartaz deste ano (tão esperado pelos “mostreiros” todos os anos), é assinado pelo muralista e expoente da arte brasileira Eduardo Kobra. A arte faz uma homenagem ao gênio inovador do cinema Georges Mélies (1861-1938).

Cinemateca, a casa do cinema

O retorno da Cinemateca Brasileira como centro da Mostra também é ponto central deste ano. O local que guarda o maior acervo audiovisual da América Latina estava fechado desde 2020, após o abandono do governo do presidente Jair Bolsonaro. Após uma série de investidas do bolsonarismo contra o audiovisual, o descaso chegou a provocar um incêndio, em dezembro de 2021. Agora, sob novo comando e após reestruturação, a Cinemateca voltou a abrir as portas e caminha para resgatar seu protagonismo no cinema nacional.

A abertura da Mostra evidencia isso, na quarta-feira (19), com a diretora do evento, Renata de Almeida, ao lado do apresentador Serginho Groisman, justamente na Cinemateca, na zona sul da capital paulista. Após a apresentação, como de costume, o filme de abertura será o último vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes, Triângulo da Tristeza (2022), de Ruben Östlund. O diretor sueco é um dos mais relevantes cineastas de sua geração, também premiado em Cannes por seu filme anterior, The Square (2017), que abriu a Mostra daquele ano.

Programação forte

Em entrevista coletiva no dia 8, Renata comemorou mais um ano de Mostra, mesmo com todos os percalços e desmontes na cultura dos últimos anos. “A Mostra está muito bacana. Vai abrir com a Palma de Ouro, tem também o Urso de Ouro de Berlim. O último filme que confirmamos foi da Colômbia, que acabou de ser o vencedor do festival de San Sebastian. A gente teve que fazer algumas opções e nossa opção, como sempre, foi privilegiar o público. Não alteramos a qualidade da programação da Mostra e acho que a gente conseguiu. Está super forte”, comentou.

Ao contrário de parceiros ligados ao governo federal, que abandonaram a Mostra, o Sesc segue como mais longevo patrocinador do evento. A gerente de ação cultural do Sesc-SP, Rosana Paulo da Cunha, também participou da coletiva. “Dentro da nossa parceria, vamos atuar com a sala do CineSesc, como sempre fazemos durante toda a Mostra. É o nosso ponto focal, também como o período de repescagem”, disse. A repescagem é um evento que ocorre sempre na semana seguinte ao fim da Mostra, com os principais filmes e os mais aprovados pelo público.

Pandemia

Rosana lembrou que as duas últimas edições da Mostra foram realizadas com muito empenho. Isso, porque durante os piores dias da pandemia de covid-19, o evento foi transmitido de forma on-line (em 2020) e híbrido (em 2021). Desta vez, o festival volta a ser majoritariamente presencial, ainda que permaneça parte da programação no modelo streaming, por meio do SPCine Play, alteração que veio para ficar. “É um trabalho que tem sido feito com muita resistência, em especial nestes dois últimos anos de pandemia. Não foi fácil para ninguém, para as instituições, para os movimentos independentes, para as produtoras, diretores, para todo o encadeamento da produção audiovisual”, afirmou.