‘Taiguara – Onde Andará teu Sabiá?’, um filme-tributo
Desenvolvido a partir de materiais disponíveis na internet, o vídeo é uma resposta à ausência de um documentário sobre o artista de forte presença poética e política
Publicado 02/12/2022 - 16h56
![Taiguara Regente Divulgação](https://www.redebrasilatual.com.br/wp-content/uploads/2022/12/Regente.jpeg)
São Paulo – Definido como uma “videomontagem” pelo próprio realizador Carlos Alberto Mattos, também pesquisador e crítico, Taiguara – Onde Andará teu Sabiá? é um tributo ao cantor e compositor Taiguara Chalar da Silva (1945-1996). Desenvolvido a partir de materiais disponíveis na internet, o vídeo é uma resposta à ausência de um documentário sobre o artista. E está disponível no canal Vimeo desde a quinta-feira (1º).
“Taiguara foi um dos mais talentosos músicos e letristas da música popular brasileira. Mas tem sua obra menos reconhecida e festejada do que merece”, afirma Mattos. “Minha ideia com este vídeo foi estimular a realização de um filme ‘de verdade’ sobre esse artista genial, cuja história de vida é igualmente fascinante”, explica.
“Taiguara – Onde Andará teu Sabiá?” não vai circular por mostras e festivais, apenas ficará disponível gratuitamente naquele. O eixo da narrativa é um depoimento autobiográfico concedido em áudio ao jornalista paranaense Aramis Millarch em 1984. A partir desse ponto, Mattos organizou trechos de shows de televisão, entrevistas, fotos e artigos da imprensa para pontuar o itinerário do compositor. Cenas de filmes brasileiros, cuja utilização foi autorizada por seus diretores e produtores, ajudam a ilustrar falas e músicas de Taiguara. A voz do compositor é a única a narrar o seu próprio percurso.
Confira entrevista sobre a produção do filme com o autor no podcast do Conde
Nascido no Uruguai de pai músico e mãe cantora, crescido no Rio de Janeiro entre Santa Teresa e a Lapa, Taiguara surgiu na cena musical de São Paulo no começo da década de 1960. De shows universitários ao Juão Sebastião Bar e dali aos grandes festivais de música, a carreira progrediu como cantor romântico – usava o cabelo alisado e tinha uma voz “perfeita” –, além de esboço de galã, no cinema e até numa fotonovela, clicada em Hollywood. O vídeo de Mattos contém cenas raras do longa-metragem O Bolão, de Wilson Silva, em que Taiguara atua como protagonista, e de Crônica da Cidade Amada, de Carlos Hugo Christensen, que tem canções interpretadas por ele.
Suas letras repletas de insinuações eróticas e políticas despertaram o furor da censura na década de 1970, fazendo dele o compositor mais vetado da época (mais que Chico Buarque ou Geraldo Vandré em número de composições banidas ou alteradas pela ação dos censores). A perseguição o levou a exilar-se primeiro na Europa, depois na África, o que só fez acentuar sua indignação contra a ditadura brasileira, a lógica capitalista excludente e as garras longas do imperialismo.
![Trecho do filme Taiguara](https://www.redebrasilatual.com.br/wp-content/uploads/2022/12/taiguara-com-beth-e-prestes-1024x643.jpg)
Engajado
Quando retornou ao Brasil, na virada dos anos 1980, Taiguara estava plenamente engajado nas causas da esquerda. Assinou uma coluna de ideias revolucionárias no jornal Hora do Povo e costumava rechear seus shows de chamamentos ao socialismo. Gravou discos de louvor às culturas indígena e africana, chegando a se casar com a líder indígena Eliane Potiguara. A amizade com Luís Carlos Prestes tinha matizes de relação pai-filho.
Depois de uma longa tentativa de tratamento em Cuba, Taiguara morreu de câncer na bexiga em 1996. Deixou um rastro de belas ideias e belas composições que merecem um revisita. O álbum Imyra Tayra Ipy, Taiguara costuma frequentar listas dos melhores discos já produzidos no Brasil. Taiguara deixou também duas filhas e dois filhos naturais, além de uma filha da união anterior de Eliane Potiguara, que ele adotou como legítima. Todos envolvidos de alguma maneira com a música.