Projeto que mexe no Cine Augusta é aprovado, mas movimento vai recorrer
Construtora apresentou ao Patrimônio Histórico projeto “alternativo” que manteria duas salas de projeção. Urbanista Nabil Bonduki critica proposta de mudança
Publicado 05/12/2023 - 15h06
São Paulo – Em novo capítulo sobre o espaço onde se localiza o anexo do Espaço Itaú de Cinema, na rua Augusta, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) aprovou ontem (4) um projeto alternativo apresentado para o local pela construtora, que adquiriu boa parte do quarteirão e pretende construir imóveis para locação. O movimento que defende a preservação do espaço pretende recorrer, segundo o urbanista e professor Nabil Bonduki. Assim, o destino daquela área segue incerto.
Em 27 de fevereiro, o Conpresp decidiu abrir processo de enquadramento em Zona Especial de Preservação Cultural – Área de Proteção Cultural (Zepec-APC) para o espaço. A decisão foi tomada considerando que local “é destinado à exibição pública de conteúdo cultural, enquanto cinema de rua”, além da “historicidade” do espaço e dos imóveis que o compõem.
Projeto alternativo
Dessa forma, de acordo com a mesma resolução, ações como “demolição ou ampliação, aprovação de edificação no espaço ou a interrupção da atividade de exploração de cinema nos imóveis citados deverão ser previamente analisadas pela Comissão Técnica de Análise”. E posteriormente deliberadas pelo próprio Conpresp.
Na 786ª reunião ordinária do Conselho, ontem à tarde, a Vila 11 Empreendimentos apresentou um “projeto alternativo” prevendo espaço para duas salas de cinema. Segundo a Secretaria Municipal de Cultura, “o projeto modificativo do Espaço Itaú de Cinema Augusta – Anexo” foi aprovado com seis votos “como apresentado” e com dois “com diretrizes”. Mas, segundo Nabil, a proposta “não garante aquela ambiência de espaço que o cinema tem”. Manteria o local de exibição, “mas não o lugar com a riqueza como tem hoje”.
Espaço cultural
Ele considera um “equívoco enorme” a ideia de mudança conforme apresentada. “Manter aquele espaço não é uma concessão que o empreendedor está fazendo. Deveria ver como potencial (para locação). Quem vai morar na rua Augusta vai exatamente porque tem cinema, bar, tem todo aquele movimento”, observa.
O cinema e o Café Fellini, que funciona no anexo, seriam fechados em 16 de fevereiro. Mas, além da mobilização pública, uma decisão judicial suspendeu o processo. Hoje, as duas salas do anexo exibem, entre outros, Assassinos da Lua das Flores e os brasileiros Elis & Tom, Só tinha de ser com você, Meu nome é Gal e Mussum, o Filmis. Nas redes sociais, circula um abaixo-assinado contra a demolição.
O espaço original fica em frente. São três salas de exibição, no mesmo espaço que abrigou o antigo Cine Majestic, inaugurado em junho de 1947, com o filme Tentação. Foi mudando de nome (Nacional, Unibanco, Itaú) e de dono. Já o anexo funciona desde 1995.