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Secovi defende melhora no transporte público antes de restrição para carros

Secretário municipal diz que proposta que altera regras de vagas de garagem será válida em áreas que receberão investimento em mobilidade e afirma que adoção de restrições será gradual

Rubens Chaves/Folhapress

Para entidade de empresários do ramo de construção, restrição de vagas deve ser gradual

São Paulo – Setor imobiliário e movimentos sociais estão unidos na decisão de reivindicar melhorias para o transporte público da cidade de São Paulo, mas as exigências são bastante diferentes. Cláudio Bernardes, presidente do Secovi, sindicato que representa as empresas do ramo, defendeu hoje (28) que a medida é primordial para que se restrinja o número de vagas de estacionamento em empreendimentos residenciais e não residenciais. A restrição está proposta no Plano Diretor Estratégico (PDE) atualmente discutida na Câmara de Vereadores.

O PDE, que deve ser votado ainda este semestre, prevê que em prédios residenciais nas áreas de influência de corredores de ônibus e estações ferroviárias será possível construir sem restrições para o empreendedor até uma vaga por apartamento e, no caso dos não residenciais, uma vaga de garagem a cada 100 metros quadrados construídos.

Para o Secovi, no entanto, é preciso garantir uma transição para a adoção do modelo. Caso o texto atual seja aprovado, empreendimentos autorizados depois da aprovação do PDE terão de atender imediatamente às novas regras. “Temos que fazer isso com uma transição. A questão da limitação dos estacionamentos nos eixos é parte dessa transição. Conceitualmente está correto, mas nós precisamos ver se é o momento correto de fazer isso e como o mercado se adapta. Porque para o setor, teoricamente, é indiferente fazer uma, duas ou três vagas. Desde que você tenha um produto que seja aceito no mercado”, disse Bernardes, em debate nesta tarde, na sede da entidade.

Participaram do encontro também o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, Fernando Melo Franco, o vereador Nabil Bonduki (PT), representantes do Secovi e o gerente de Pesquisas Urbanas do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) de Nova York, Michael Krodansky, defensor da restrição de vagas.

Mello Franco afirmou que a proposta de transição do Secovi será analisada, mas defendeu que o modelo é dinâmico e que, de certa forma, prevê essa transição, já que a mudança em relação ao número de vagas de estacionamento ocorrerá conforme forem aprovados os projetos de mobilidade. “Temos uma proposta muito clara: vamos concentrar as ações onde a oferta de transporte for oferecida e ampliada. A partir desse momento, o regramento, entre eles, a restrição de garagem, se instalará e vamos com isso também preservar outras áreas de transformação mais substancial da própria cidade”, afirmou.

A proposta da restrição de vagas inverte o conceito atual, que obriga as construtoras a garantirem um número mínimo delas para cada tipo de construção. Isso porque, atualmente, diversos urbanistas defendem que a presença de estacionamento incentiva o uso do carro, mesmo quando há grande quantidade de transporte público disponível.

Para o coordenador-executivo da vice-presidência de Assuntos Legislativos e Urbanismo Metropolitano do Secovi, Eduardo Della Manna, “seguramente” o comportamento da população não vai mudar de uma hora para outra. Ele apontou cinco possíveis efeitos “perversos” com a restrição de vagas: a sobrecarga do leito carroçável, ou seja, o aumento de carros estacionados nas ruas, aumento da lotação da rede de transporte público,  supervalorização de imóveis com número de vagas considerado adequado e maior demanda por vagas, o que acarretaria o aumento de preço dos estacionamentos.

Bonduki disse acreditar que a “desassociação” entre as unidades habitacionais e a garagem pode inclusive baratear o preço dos imóveis e afirmou que os donos de carro, assim como os de barco, terão de arcar com o custo de manter o veículo.