Promotor pede exclusão de três réus do julgamento sobre massacre no Pavilhão 9

Para relator da acusação, não há provas de que o trio tenha participado da operação. Total de vítimas por armas de fogo do atual processo também foi reduzido pela acusação, de 15 para 13

São Paulo – Em sua primeira exposição do último dia de julgamento do chamado massacre do Carandiru, o promotor público Fernando Pereira da Silva, pediu que três dos 26 policiais militares acusados de comporem o grupo que invadiu o Pavilhão 9 da Casa de Detenção – em outubro de 1992 –, como parte da estratégia para dissolver um conflito surgindo entre grupos rivais dentro do presídio. A ação resultou em 111 pessoas mortos e é um dos episódios mais marcantes da violência policial em São Paulo.

Segundo o promotor,  Eduardo Espósito, Maurício Marchese Rodrigues e Roberto Ribeiro da Silva, deverão ser julgados por participação entre outras frentes da operação. Os dois primeiros não faziam parte da Rota como os demais e agiam sob outro comando. Ribeiro da Silva estaria no batalhão que invadiu outra área do presídio. Silva também reduziu o total de detentos mortos por armas de fogo na operação do Pavilhão 9 (e que é o alvo exclusivo do atual julgamento). Em vez dos 15 relatados no início do processo, o total é de 13. Um dos mortos agora excluídos deste julgamento foi encontrado em outro pavimento, enquanto o segundo foi vítima de arma branca.

“Não estamos aqui para pegar todo mundo de roldão”, disse o promotor, ao explicar que a ação é coletiva e que pretende apurar a responsabilidade da operação do grupo, “que colaborou coletivamente para o sucesso da ação policial” naquele episódio, enfatizou.

Exposição

Em sua fala inicial, Silva lembrou que o processo contém inúmeros indícios de execução sumária dos internos, contrariando uma das teses da defesa, de que os policiais dispararam armas em reação a ataques que teriam sofrido. Mostrou que nenhum ferido a bala sobreviveu, que do total de 111 mortos, 89 foram atingidos na cabeça e que a grande maioria deles recebeu tiros em áreas vitais. Do contrário, dos 21 policiais feridos apontados pelo relatório da Rota, quase todos apresentaram ferimentos leves, como escoriações e cortes produzidos por armas brancas, nas mãos ou braços.

O julgamento prossegue por todo o dia de hoje. Cada parte terá três horas para expor seus motivos para condenar ou absolver os réus. Se houver necessidade, ambas terão mais uma hora cada para a réplica e mais uma hora para a tréplica. A sentença deve sair ainda à noite.