Novo ato por liberdade de pessoas em situação de rua presas deve ocorrer amanhã em SP

Hudson Bernardo da Silva, Enmanuel William de Oliveira, Vantuir Guedes de Assis e Alexandro Costa dos Santos participavam de um protesto por melhores condições em centro de acolhida da prefeitura

Danilo Ramos

Cartaz exibido durante protesto do dia 1º contra prisão de quatro pessoas que pediam qualidade em serviços públicos

São Paulo – Ocorrerá no final da tarde de amanhã (3), na frente do metrô Armênia, em São Paulo, o segundo ato pedindo a liberação de quatro pessoas em situação de rua presas desde o dia 30, depois de terem participado de um protesto por melhores condições no Centro de Acolhida Estação Vivência, no Canindé, região central da capital paulista.

O auxiliar de limpeza, Hudson Bernardo da Silva, de 23 anos; o entrevistador Enmanuel William de Oliveira, 25; o pedreiro Vantuir Guedes de Assis, 49; e o aposentado Alexandro Costa dos Santos, 53, participavam de um protesto por melhores condições no Centro de Acolhida Estação Vivência, no Canindé. Eles foram acusados, segundo os policiais que registraram o Boletim de Ocorrência (BO), de participar de um grupo com cerca de 20 pessoas que queimou pneus e colchões durante a manifestação, mas que não produziu nenhum dano ao centro de acolhida.

No BO, os presos são acusados de dano qualificado ao patrimônio, resistência a prisão e associação criminosa. Acusações “muito pesadas”, classifica o padre Julio Lancellotti, vigário da Pastoral do Povo da Rua.

Segundo Lancellotti, a manifestação só aconteceu porque o centro apresentava sérios problemas. “Houve uma rebelião, um protesto pelas péssimas condições do albergue na parte de alimentação, de água. Haviam duzentas e vinte pessoas lá e dois chuveiros que ficaram sem água. Problemas de esgoto e maus tratos”, afirma.

O centro de acolhida é mantido pela prefeitura de São Paulo em parceria com a entidade Coordenação Regional das Obras de Promoção Humana. Há relatos de problemas também em outros espaços municipais que deveriam prestar assistência social a população de rua.

No começo de dezembro, o prefeito Fernando Haddad (PT) afirmou que conflitos relacionados ao tráfico de drogas estavam afastando equipes do centro montado no Parque D. Pedro II, um dos que apresentou mais precariedades – na ocasião, o prefeito prometeu que iria buscar uma parceria com o governo estadual. Até o momento, nada foi anunciado oficialmente.

Para Lancellotti, há um abandono dos serviços públicos assistenciais. “Há um sucateamento geral da rede de atendimento a população de rua”.

Ontem, a Defensoria Pública pediu a liberação dos presos por meio de um habeas corpus, que foi negado. Os quatro homens permanecem em prisão temporária na 2ª Delegacia de Polícia da capital, no bairro do Bom Retiro, mas devem ser transferidos para um Centro de Detenção Provisória nos próximos dias.

A primeira manifestação contrária às prisões ocorreu no final da tarde desta quarta-feira (1º). Cerca de 30 pessoas se reuniram na Praça da Sé, de onde seguiram para a frente do Tribunal de Justiça, onde exibiram cartazes com palavras de ordem.

Para Lancellotti, as prisões dão indicativo de como será o tratamento da polícia às manifestações que devem acontecer ao longo de 2014, ano de eleições e da Copa do Mundo. “A quantidade de policiais que vimos ontem (durante os protestos) na Sé foi impressionante”.

Ele também lembrou que o única pessoa indiciada e que permanece presa depois de participar das manifestações de junho passado também vivia em situação de rua, no Rio de Janeiro. Rafael Braga Vieira, de 25 anos, afirma que portava uma garrafa com produto de limpeza quando foi preso. Os policiais o acusam de levar um coquetel Molotov, tese acolhida pelo juiz que o mantém preso.