Insegurança pública

No Rio, moradores denunciam violência policial em operações que já mataram ao menos sete pessoas

Desde as primeiras horas desta terça (27), as polícias Civil e Militar realizam uma ampla operação nas comunidades do Alemão e da Penha, na zona norte. Moradores relatam nas redes sociais agentes entrando em suas casas sem permissão. Mais de 22 mil estudantes perderam as aulas. Saúde e transporte também são prejudicados

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Imagens mostram a presença de grupos de policiais se abrigando e atirando de dentro da casa de uma família no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio

São Paulo – Desde as primeiras horas desta terça-feira (27), as polícias Militar e Civil fazem uma série de operações em comunidades em diversas regiões da cidade do Rio de Janeiro. Ao menos sete pessoas foram mortas e dois PMs ficaram feridos. À imprensa, a corporação afirmou que todos os óbitos são de suspeitos e justificou que as ações visam coibir a atuação do crime organizado. Por meio das redes sociais, moradores denunciam, no entanto, o caráter de violência policial das ações e que os agentes estão invadindo suas casas, sem mandado judicial.

A operação tem se concentrando nas comunidades dos complexos do Alemão e da Penha, ambos na zona norte. De acordo com o fundador do jornal Voz das Comunidades, o jornalista e ativista Rene Silva, as imagens reunidas pelo veículo mostram a presença de grupos de policiais se abrigando e atirando de dentro da casa de uma família no Complexo do Alemão. A ação dos policiais tornou também a moradia alvo dos criminosos.

Uma outra moradora contou ainda que os agentes entraram em sua casa, mesmo sem permissão, e reviraram tudo. ”Eu fico muito nervosa. Estou com um bebê de 2 meses. Minha casa é muito bonita, mas tudo com o suor do meu trabalho. Porém isso não importa para eles! Todo mundo, para eles, são bandidos”, lamentou ao Voz das Comunidades.

Mais de 20 mil sem aula

O intenso tiroteio deixou mais de 22 mil estudantes sem aulas. E prejudicou a circulação de linhas de ônibus. Unidades de saúde também tiveram o funcionamento interrompido. No Complexo da Penha, um policial do Batalhão de Polícia de Choque foi atingido no braço e levado para o Hospital Central da Polícia Militar (HCPM), no Estácio, região central. O estado de saúde dele é estável. Um policial do 3º BPM (Méier) foi ferido por estilhaços durante as ações. Ele foi socorrido no Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, zona norte, e encontra-se estável.

As ações da Polícia Militar também miram grupos criminosos que atuam em outras comunidades próximas aos complexos de favelas: Flexal (Inhaúma), Engenho da Rainha, Juramentinho, Ipase (Vicente de Carvalho), Guaporé, Tinta e Quitungo (Brás de Pina e Cordovil). Dois adolescentes foram presos no Quitungo. Na Comunidade da Flexal, a polícia alega que quatro criminosos foram atingidos e duas pistolas foram apreendidas. Três deles morreram.

Os outros óbitos, segundo a PM, ocorreram na madrugada desta terça. A versão policial diz que agentes do 21º BPM, de São João de Meriti, entraram em confronto com criminosos armados que saíam do Complexo da Penha com destino à Comunidade do Trio de Ouro, no município da Baixada Fluminense. No local, quatro ocupantes de um veículo foram mortos. E com eles, segundo a corporação, foram apreendidos dois fuzis calibre 7.62, quatro carregadores, dois rádios comunicadores e uma capa de colete balístico, além do carro roubado.

Educação

A Secretaria municipal de Educação informou que, na região do Complexo da Maré, por causa das operações policiais desta manhã, 24 unidades escolares foram afetadas pelas operações, afetando 8.140 estudantes. No Complexo da Penha, 16 escolas foram fechadas, deixando 4.894 estudantes sem aulas. No Complexo do Alemão, 20 unidades não abriram, prejudicando 7.185 alunos.

No Morro do Trem, duas escolas tiveram o funcionamento interrompido, afetando 342 alunos. Nas comunidades do Quitungo e Guaporé, duas unidades escolares foram impactadas, afetando 455 alunos. Na Cidade de Deus, cinco escolas deixaram 1.580 estudantes sem aulas.

A Secretaria estadual de Educação informou à Agência Brasil que quatro colégios tiveram o funcionamento interrompido por causa das operações.

Saúde

As clínicas da Família Lourival Francisco de Oliveira, na Cidade de Deus; Jeremias Moraes da Silva, na Maré; Bibi Vogel e o Centro Municipal de Saúde Ariadne Lopes de Menezes, no Engenho da Rainha, acionaram o protocolo de acesso mais seguro e, para segurança de profissionais e usuários, interromperam o funcionamento na manhã desta terça-feira.

Já as clínicas da Família José Neves, na Cidade de Deus; Diniz Batista dos Santos, na Maré; Nilda Campo Lima, em Cordovil, e Aloysio Augusto Novis, em Brás de Pina, mantêm o atendimento à população. Apenas as atividades externas realizadas no território, como as visitas domiciliares, estão suspensas.

Transporte

O Sindicato das Empresas de Ônibus (Rio Ônibus) informou à Agência Brasil que a empresa da Viação N. Sra De Lourdes, que tem garagem no bairro da Penha, teve um atraso de 1 hora na saída de todas as linhas da companhia. Nas contas do Rio Ônibus, 130 mil passageiros de 15 linhas foram afetados.

“O Rio Ônibus repudia mais um episódio de violência urbana que afeta a vida de passageiros e rodoviários. A recorrência dos casos reforça o apelo para que as autoridades competentes atuem em prol de garantir a segurança da população carioca”, disse o sindicato em nota.

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Redação: Clara Assunção, com informações de Bruno de Freitas Moura, da Agência Brasil


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