Ditadura

MPF do Rio de Janeiro denuncia agente da Casa da Morte

Caseiro de local de torturas em Petrópolis é acusado pelos crimes de estupro e sequestro

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Única sobrevivente da Casa da Morte, Inês Etienne Romeu foi também a última presa política libertada no Brasil

São Paulo – O Ministério Público Federal no Rio de Janeiro (MPF) denunciou o ex-sargento do Exército Antonio Waneir Pinheiro Lima, conhecido como Camarão, que atuava no local conhecido como Casa da Morte, em Petrópolis, na região serrana do estado. A acusação é de crimes de estupro e sequestro, em 1971, da militante Inês Etienne Romeu, que era diferente de organizações clandestinas atuantes no período da ditadura, como a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), a VAR-Palmares e a Polop.

“Em razão de sua militância estudantil e política, Inês Etienne Romeu tornou-se alvo do governo ditatorial brasileiro, tendo sido perseguida e monitorada por órgãos de inteligência, sequestrada, presa ilegalmente, torturada e estuprada, conforme demonstram várias provas amealhadas na investigação”, afirmam os procuradores da República Antonio Passo Cabral, Sergio Suiama e Vanessa Seguezzi.

Inês foi sequestrada em São Paulo e levada para a Casa da Morte. “Entre 7 de julho e 11 de agosto de 1971, Camarão manteve a vítima contra sua vontade dentro do centro ilegal de detenção, ameaçando-a, afirmando que a mataria, e utilizando recursos que tornaram impossível a defesa da vítima”, diz o MPF na denúncia. “Em suas declarações, ‘Camarão’ admitiu ser o caseiro da Casa da Morte, mas disse que não houve tortura no local e nunca viu entrada e saída de presos.”

Para o Ministério Público, a afirmação não faz sentido. “O que um militar da Brigada Paraquedista estaria fazendo em serviço em uma casa em Petrópolis, e não em uma unidade militar, como um quartel?”, questionam. “Todas as provas dos autos, documental e testemunhal, com o próprio depoimento da vítima, o reconhecimento do acusado por foto, a confissão de Camarão de que realmente era o vigia da Casa da Morte, passando pelas quebras de sigilo, busca e apreensão e interceptação telefônica, tudo mostra que o acusado é culpado pelos crimes que lhe são imputados.”

Segundo o relato de Inês, ela tentou o suicídio quatro vezes. A militante ficou presa em outros locais, sendo definitivamente libertada apenas em agosto de 1979. O depoimento foi colhido em 2013, quando ela reconheceu a foto de Camarão.