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Moradores da Prestes Maia apoiam ocupação na zona cerealista em São Paulo

Local foi um entre os 20 edifícios e terrenos ocupados neste fim de semana em Jornada Nacional de Luta por Moradia

R.Mercúrio: Moradores da ocupação Preses Maia deram apoio na ocupação <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>R.Mercúrio: Moradores da ocupação Preses Maia deram apoio na ocupação <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>R.Mercúrio: Moradores da ocupação Preses Maia deram apoio na ocupação <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>R.Mercúrio: Moradores da ocupação Preses Maia deram apoio na ocupação <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>

São Paulo – Nascido na Ocupação Prestes Maia, na região da Luz, em São Paulo, há um ano e sete meses, Gabriel participa de sua primeira ocupação, em um prédio na Rua Mercúrio, 564, na zona cerealista. Sua mãe, Julia Souza, está grávida de seis meses. “A gente morava de aluguel e o dono quis aumentar para R$ 700. Eu não tinha como pagar e ele colocou nossas coisas para fora, na rua. Daí eu procurei o movimento”, conta. Há pelo menos mais um bebê no prédio, de apenas um mês.

O prédio foi um dos 20 edifícios e terrenos ocupados neste fim de semana por movimentos e associações ligados à União Nacional de Moradia Popular (UNM), à Central de Movimentos Populares (CMP) e à Frente de Luta por Moradia. Segundo as lideranças, 80 famílias ocupam o prédio, a maioria deles moradores da Prestes Maia, ocupada desde 2010 por 475 famílias. O “apoio” a novas ocupações é prática comum entre os movimentos de moradia. Mais de 5 mil pessoas participaram das ocupações durante este fim de semana. O Prestes Maia está com decreto de interesse social da prefeitura de São Paulo, que negocia a compra dele com o proprietário. Em outubro do ano passado, o Ministério Público pediu a saída imediata do prédio em função do risco de incêndio.

A reportagem teve acesso a dois andares do prédio na rua Mercúrio hoje (7), por volta das 2h, e encontrou crianças e idosos dividindo colchonetes. O prédio estava em boas condições, limpo e com luz elétrica e uma placa de “aluga-se” na porta.

Ainda assim, foi um dos alvos da Jornada Nacional de Luta por Moradia, que deve terminar com marchas por todo o Brasil amanhã. Ônibus rumo a Brasília devem partir nesta tarde da capital e cidades do interior de São Paulo, além de Minas Gerais e Goiás.

“Esse prédio estava vazio há pelo menos 12 anos. E é de um dos grandes latifundiários de São Paulo, o grupo Savoi”, afirma Ivanete Araújo, que coordenou a ação e é responsável por duas das mais importantes ocupações da cidade, a Prestes Maia e a Mauá.

“Não tem outro jeito. Só ocupando mesmo. Para mim, não tem outro jeito”, explica Elma Martins, de 59 anos. Atualmente, ela vive na Prestes Maia, mas antes vivia na rua. “Eu trabalhava de doméstica e já não conseguia pagar um aluguel. Agora, nem isso. Eu vivo de esmola mesmo. Como vou ter uma casa?”

Em São Paulo, as reivindicações da Jornada de Luta são direcionadas para as três esferas de poder, por isso prédios federais, estaduais e municipais foram ocupados, além de propriedades privadas. Desde novembro, os movimentos fazem o levantamento dos locais que seriam ocupados. “A gente olha se está vazio ou não, se tem segurança, pesquisa se é da prefeitura, do estado ou da União. No caso dos privados, se tem dívida de IPTU”, explica Graça Xavier, coordenadora da União dos Movimentos de Moradia (UMM).

Em relação ao governo municipal, os manifestantes afirmam que apesar do diálogo e a promessa de construir 55 mil unidades habitacionais, o prefeito Fernando Haddad (PT) não apontou quantos e quais serão destinados aos sem-teto militantes em movimentos. Desde o início de sua gestão, Haddad afirma que precisa atender aos engajados e aos não engajados. A Secretaria de Habitação (Sehab) afirma que 50% das unidades serão para pessoas provenientes de áreas de risco, 25% para pessoas inscritas no cadastro único da pasta e 25% para pessoas indicadas pelas entidades.

No âmbito estadual, os manifestantes cobram o cumprimento de uma promessa do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Em uma reunião em agosto, ficou acertado que 10 mil unidades seriam construídas no sistema de autogestão, quando as entidades ficam responsáveis por elaborar projetos e contratar os serviços relacionados à obra. Os movimentos consideram esse sistema fundamental para enfrentar o setor da construção civil, que produz imóveis menores por valores mais altos. Mas apesar do compromisso, não teria havido avanço da pauta.