Novos tempos

Marcha das Margaridas deve reunir mais de 100 mil mulheres em Brasília nestas terça e quarta

Marcha se realiza a cada quatro anos. Desde 2016, as mulheres resistiram. Agora, conversam com o governo Lula por avanços concretos para a promoção da igualdade no país

Dino Santos
Dino Santos
"Confirmamos a presença de Lula para o ato de encerramento da marcha. Então, temos esperança de que teremos avanços", afirma organizadora

São Paulo – Brasília se prepara para receber a Marcha das Margaridas 2023, evento, que se realiza a cada quatro anos e é um expoente da luta feminista no país. Caravanas de todas as regiões são esperadas na capital. Mais de 100 mil mulheres devem marchar para cobrar ações efetivas de igualdade. Neste momento, a marcha também reflete a retomada da organização social em período de normalidade democrática, após quatro anos de governo do ex-presidente inelegível Jair Bolsonaro (PL). Para marcar a diferença, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve participar.

A Marcha será realizada amanhã (15) e quarta-feira, com milhares de mulheres mobilizadas pela reconstrução do país e em defesa dos direitos das mulheres e de todos os vulneráveis. O esforço também marca a luta das trabalhadoras do campo, uma vez que conta com organização da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultores Familiares (Contag). Além da entidade, sindicatos, movimentos sociais, organizações camponesas, indígenas, quilombolas, cirandeiras, ribeirinhas e extrativistas engrossam o movimento.

A Marcha das Margaridas deste ano tem definidas 13 pautas. São elas:

  • Democracia participativa e soberania popular;
  • Poder e participação política das mulheres;
  • Vida livre de todas as formas de violência, sem racismo e sem sexismo;
  • Autonomia e liberdade das mulheres sobre o seu corpo e a sua sexualidade;
  • Proteção da natureza com justiça ambiental e climática;
  • Autodeterminação dos povos, com soberania alimentar, hídrica e energética;
  • Democratização do acesso à terra e garantia dos direitos territoriais e dos maretórios (territórios costeiros, influenciados pela maré);
  • Direito de acesso e uso social da biodiversidade e defesa dos bens comuns;
  • Vida saudável com agroecologia e segurança alimentar e nutricional;
  • Autonomia econômica, inclusão produtiva, trabalho e renda;
  • Saúde, previdência e assistência social pública, universal e solidária;
  • Educação pública não sexista e antirracista e direito à educação do e no campo, e
  • Universalização do acesso à internet e inclusão digital.

Grande momento

Mazé Morais, coordenadora geral da marcha e secretária da Mulher da Contag, afirma que o momento é de ansiedade e esperança. “Estamos a todo vapor. As margaridas de todos os estados brasileiros estão se organizando e se preparando para esse grande momento. As margaridas de outros países também estarão aqui para conhecer essa grande ação e a fortalecer a nossa luta, que é comum em todo o planeta”, afirma ao portal da CUT, que também participa da articulação.

A secretária da Mulher da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Fernanda Lopes, reforça a relevância do movimento. “Como Mazé explicou, os problemas enfrentados pelas mulheres são muito parecidos ao redor do mundo, por isso que um evento da magnitude da marcha é necessário, porque facilita essa troca de vivências, de diversos movimentos sociais, do Brasil e de outros países da América Latina. E, a partir disso, fortalecemos as nossas pautas”.

A esperança advém da vitória de Lula, que derrotou o extremismo nas urnas no ano passado. “Passamos pela desintegração do Ministério da Mulher, recriado em janeiro, com a chegada do governo Lula, além disso, o orçamento destinado a proteção das mulheres foi praticamente zerado no orçamento elaborado e enviado por Bolsonaro ao Congresso, referentes ao período de 2020 a 2023 (…). Esse movimento do Estado acarretou no fortalecimento da violência de gênero em toda a sociedade, com reflexos no aumento de casos, como revelou a recente publicação do Anuário Brasileiro de Segurança Pública“, finaliza Fernanda.

Ontem e hoje

Em entrevista coletiva organizada pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Mazé lembra que a última edição da marcha, sob Bolsonaro, sequer tinha pautas concretas. A ideia ali era apenas afirmar a resistência. “Foi um momento de muitas perdas. De muitas dificuldades. Em relação a Saúde, Educação, do crédito. Tudo isso repercutiu de forma muito negativa na vida das mulheres. Sobretudo a questão da violência. O Brasil voltou para o mapa da fome e as mulheres quem sentem mais. Vimos nossos filhos sem alimento, sofremos mais com a violência nos territórios mais diversos”, disse.

“Não tivemos como pedir socorro, não tínhamos equipamentos para denunciar. Quando a pandemia chegou fomos nós que sofremos mais. Desde 2016, com as reformas trabalhista e da previdência. Os retrocessos nos afetam mais. E o feminicídio, a desigualdade. Nossa luta é por isso. Por isso continuamos marchando. Por democracia, igualdade social, justiça, soberania, educação, saúde. Pelo fim da violência contra as mulheres”, completou.

Agora, o cenário muda com Lula, argumenta. “Entregamos nossas pautas dois meses antes da marcha. Para que o governo tivesse tempo de olhar a pauta construída em 13 eixos de vários temas importantes. Temas que vão impactar na vida das mulheres e em toda a sociedade. Entregamos e, de lá pra cá, tivemos várias reuniões, audiências, encontros com vários ministérios. Negociamos e, de fato, confirmamos a presença de Lula para o ato de encerramento da marcha. Então, temos esperança de que teremos avanços positivos.”

A Marcha

A Marcha das Margaridas é um evento emblemático que se realiza em Brasília, unindo milhares de mulheres trabalhadoras rurais. Nomeada em homenagem à líder sindical Margarida Maria Alves, a marcha se destaca como um clamor por igualdade de gênero, justiça social e direitos trabalhistas para as mulheres do campo.

A cada quatro anos, esse movimento agrega uma multidão de agricultoras, camponesas, indígenas e quilombolas que percorrem as ruas da capital federal com seus estandartes coloridos, reivindicando melhorias nas condições de trabalho, acesso à terra, educação e saúde, além de denunciar a violência de gênero e outras formas de discriminação que ainda persistem no cenário rural brasileiro.