Porta fechada

Com recusas, IBGE sofre para concluir Censo. Em bairro paulistano, 34% não atendem

Resistência cresce em áreas com população de maior renda, mas no Rio, por exemplo, tem atingido outros segmentos

Helena Pontes/Agência IBGE Notícias
Helena Pontes/Agência IBGE Notícias

São Paulo – A recusa de moradores em atender os pesquisadores do IBGE é um dos empecilhos para a conclusão do Censo 2022, iniciado há seis meses. A taxa média de recusas é de 2,43% nacionalmente, mas cresce em locais de maior concentração populacional. E mais ainda em áreas com população de renda elevada. Na região da Consolação, que concentra bairros de pessoas com maior poder aquisitivo na capital paulista, o total sobe a 33,7%.

Em todo o estado de São Paulo, a taxa de recusas é de 4,49%, a maior do país. Isso equivale a 720 mil domicílios. Depois vêm Mato Grosso (3,38%) e Rio de Janeiro (3,21%).

Até agora, quase 186 milhões

Com isso, segundo o IBGE, até 31 de janeiro foram recenseadas 185.827.709 pessoas, em 65.657.749 domicílios. Esse número equivale a 89,45% da população total, de acordo com o resultado prévio do Censo – estimativa de 207,8 milhões de habitantes.

“É muito diferente do que aconteceu nas últimas campanhas censitárias. Eu credito isso ao novo ambiente em que nos encontramos”, afirma o superintendente do IBGE em São Paulo, Francisco Garrido. “Nós estávamos em uma pandemia, temos uma escalada de insegurança e as pessoas estão mais sensíveis, ocupadas em trabalhos remotos e em outras atividades que não existiam em 2010. Então, esse conjunto de coisas realmente levou a gente a ter um cenário de coleta muito diferente.”

Assim, na capital, por exemplo, a recusa varia de 2,45% (área do Brás, região central da capital) a 33,7% (Consolação). Mas atinge também outros municípios, como Várzea Paulista, que atinge 19,6%.

Paulistanos reprovam gestão da prefeitura, mas não lembram em que votaram

Medo da violência

No Rio de Janeiro, o superintendente do IBGE, José Francisco Teixeira Carvalho, conta que em algumas situações o supervisor vai ao local. “Se ele não conseguir fazer a entrevista, enviamos uma primeira carta explicativa sobre a importância de responder ao Censo, com o contato do recenseador para que o informante possa ligar para ele e, também, com a identificação, permitindo que ele confira no 0800 ou pelo site do IBGE”.

Para ele, além da área mais povoada, o medo da violência é um possível fator para a recusa. “O Rio de Janeiro é o terceiro maior estado em população e a capital é a segunda mais populosa do país, então há maiores taxas de recusas. Isso tem a ver também com a insegurança, porque os informantes ficam preocupados em abrir a porta de casa para pessoas, em atender aos telefonemas. Essa alta taxa de recusas não tem acontecido só na capital, mas também na Baixada Fluminense e em cidades da região metropolitana como Niterói e São Gonçalo.”

E o problema parece estar se espalhando, independentemente do poder econômico. “Antigamente nós tínhamos as taxas de recusas mais altas em áreas mais nobres, onde os moradores têm maior poder aquisitivo, como Barra da Tijuca, Lagoa e Ipanema, mas isso também foi se estendendo a outros bairros, como Méier, Madureira e Ramos, onde também estamos tendo problemas em termos de recusa”, diz o superintendente.

“Em algumas situações durante a abordagem o recenseador percebe que tem gente em casa, mas a pessoa não quer atender. Ou então o recenseador deixa uma folha de recado na caixa dos correios ou por debaixo da porta, mas não tem retorno. São situações de recusa velada”, afirma o coordenador técnico do Censo 2022 do IBGE, Luciano Duarte. Ainda segundo o instituto, há casos em que o morador chega a atender o recenseador, mas pede que ele retorne em outro momento. E faz isso várias vezes.