Defesa diz que governo paulista deixou policiais réus do Carandiru ‘vendidos’

Advogada dos policiais julgados pela morte de internos do Pavilhão 9 durante invasão da Casa de Detenção afirma que eles 'cumpriam missão'

São Paulo – Em sua apresentação final frente aos jurados do primeiro dos julgamentos sobre o chamado massacre do Carandiru, na tarde de hoje (20), a advogada de defesa dos 26 policiais da Rota acusados de executar 13 pessoas no Pavilhão 9, Ieda Ribeiro de Souza, defendeu a tese de que os soldados agiram no estrito cumprimento do dever e acusou o governo do estado – de onde teria partido a ordem para a invasão da Casa de Detenção – de omissão, após a repercussão negativa do episódio na opinião pública nacional e internacional. 

“As tropas (que agiram na operação) foram ‘vendidas’. Esses homens cumpriam uma missão e missão dada é missão cumprida. E o governo se omitiu”, disse. Ieda considerando que o então governador, Luiz Antonio Fleury Filho, deveria ter assumido que dera a ordem para uma operação de alto risco, para fazer frente às acusações que se seguiram à operação policial, que resultou num total de 111 mortes – em vez de permitir que alguns soldados fossem submetidos a júri popular por terem assumido a participação no episódio. E que nenhum de seus sucessores colocou-se à frente da questão. O massacre do Carandiru ocorreu em outubro de 1992.

A defesa também tentou desqualificar os laudos do legista Osvaldo Negrini, para ela interessado apenas em promoção pessoal, após perceber a comoção que se seguiu ao fim da invasão. Da mesma forma, o depoimento do diretor de disciplina da Casa de Detenção, Moacir Santos, um dos mais contundentes contra os acusados, foi rebaixado pela advogada. Santos afirmou que não havia como armas de fogo ingressarem clandestinamente no presídio e irem para as mãos dos detentos.

Para Ieda, as mulheres que visitavam internos, além de agentes penitenciários, poderiam sim levar armamentos e munição para dentro das celas. “Admitir que houvesse tráfico de armas no Carandiru seria admitir sua incompetência”, disse, sobre Santos. Já a promotoria afirma que as armas encontradas após a invasão, alegadamente pertencentes aos internos, foram ‘plantadas’ pela própria polícia, para forjar justificativas para a ação violenta.

Em sua exposição, que durou uma hora menos que o permitido (de três horas), a advogada insistiu ainda que o julgamento em curso usurpa o direito legal de individualização dos processos. “Da forma como está sendo feito, é a Rota que está sendo julgada, a instituição”, protestou. Também criticou a imprensa, responsável, segundo ela, de ampliar o sentimento de rejeição popular à ação policial. “Restou à promotoria fazer denúncias genéricas e ceder à comoção pública e aos livros (sobre a ocorrência), baseados todos nas opiniões dos detentos”, finalizou.

A acusação rechaça a tese de individualização, por considerar que os laudos não são conclusivos o suficiente para apurar com precisão de quais armas partiram os tiros que mataram os detentos. Após sua fala, a promotoria reivindicou o direito de réplica, para o qual teria uma hora para fazê-la. A defesa tem o direito de tréplica, de mesmo período. O veredito é esperado ainda para a noite de hoje.