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Conselhos de Saúde defendem ampliação das possibilidades de aborto legal

Entidades participaram de audiência pública no Senado para avaliar projeto que propõe assegurar interrupção voluntária da gravidez no SUS. Se aprovada, proposta tramitará como projeto de lei

Danilo Ramos/RBA

‘O problema é a criminalização de quem fez’, defende presidenta do Conselho Nacional de Saúde, Maria do Socorro de Souza

São Paulo – O Conselho Federal de Medicina e o Conselho Nacional de Saúde defenderam hoje (5), em audiência pública no Senado Federal, a ampliação das possibilidades de aborto legal e a descriminalização das mulheres que optam pela prática. O encontro discutiu um projeto de iniciativa popular (Sugestão 15/2014) que propõe assegurar a interrupção voluntária da gravidez até a 12ª semana no Sistema Único de Saúde (SUS). A proposta foi sugerida pela população pelo Portal E-Cidadania e teve apoio de pelo menos 20 mil pessoas.

“O problema é a criminalização de quem fez. Ela já fez, o quer não dá é pra ser criminalizada na hora que ela mais precisa de apoio. Às vezes, ela vai para o médico e precisa de ir em quatro hospitais para ser atendida e quando é atendida ela fica ouvindo barbaridades na hora que estão fazendo a curetagem”, afirmou a presidente do Conselho Nacional de Saúde, Maria do Socorro de Souza. O tema foi discutido por senadores, médicos, especialistas e interessados no tema.

O representante do Conselho Federal de Medicina, Henrique Silva, lembrou que apesar de ser um crime no país, uma em cada cinco mulheres em idade reprodutiva já fez aborto, o que totaliza pelo menos 5 milhões de brasileiras. Além disso, Silva destacou que quase 250 mil pessoas são internadas por ano para realizar curetagens após abortos. Ele defendeu a ampliação das possibilidades de aborto legal para assegurar a autonomia das mulheres e dos médicos.

Contrária à proposta, a médica obstetra Elisabeth Kipman afirmou que o aborto traz uma série de riscos às mulheres e aumenta os casos câncer de mama e de problemas psicológicos. A médica neonatologista Eliane Oliveira também considerou que a interrupção voluntária da gestação não pode ser assumida como método contraceptivo. “O abortamento mata uma criança inocente que não pode se defender. É uma violência devastadora com relação à mulher.”

O assunto também não é consenso entre os parlamentares. O relator do projeto, senador Magno Malta (PR-ES), defendeu que a questão seja discutida no Congresso Nacional. “O que nós não podemos fugir é do debate, de ouvir as pessoas, contra a favor. E quando se trata da vida nós não podemos de fato tomar qualquer tipo de posição açodada sem ouvir a sociedade.”

Hoje, o aborto só é autorizado no país, podendo ser realizado inclusive pelo SUS, quando a mulher é vítima de violência sexual, quando a gestação põe em risco sua vida, ou quando o bebê é anencéfalo. A regulamentação prevê que todas as unidades do SUS devem estar preparadas para os procedimentos médicos para a interrupção da gravidez. Além disso, as grávidas devem receber apoio psicológico e social de maneira a assegurar que elas tomem decisões conscientes e responsáveis.

A Comissão de Direitos Humanos (CDH) deve voltar debater a proposta em mais quatros audiências públicas interativas. O texto depende de aprovação da comissão para ser convertido em projeto de lei e tramitar no Senado. Em caso de rejeição, a proposta será arquivada. “Vamos convidar pessoas que sejam a favor e contra. Vamos debater exaustivamente o ponto de vista da sociedade”, afirmou o presidente da comissão, senador Paulo Paim (PT-RS), em entrevista à Agência Senado.

Com informações da Agência Senado e da Rádio do Senado