Violência Doméstica

Amelinha diz que cancelou participação em congresso na Bahia por ter sido censurada

Ex-presa política afirma que organização de evento que será realizado entre amanhã e domingo (16 a 18) pediu para 'não mais falar da ditadura e dos crimes ocorridos naquele período'

Yara Lopes/Assembleia Legislativa de SP

Ex-presa política diz que recebeu pedido de não falar da ditadura devido a apoio de militares a evento

São Paulo – A ex-presa política Maria Amélia de Almeida Teles, a Amelinha, cancelou sua participação no 1º Congresso Internacional Científico sobre Violência Doméstica, que será realizado em Salvador (Bahia), entre amanhã e domingo (16 a 18).

Segundo ela, sua fala “Verdade e Gênero” foi censurada pela organização do congresso. “Quando fui convidada para este evento, me propuseram que eu falasse sobre ‘Feminismos, Sexualidades e Gênero’, o que aceitei de bom grado, pois é um tema que faz parte da luta feminista na qual estou envolvida”, disse ela em carta aberta.

De acordo com Amelinha, no decorrer da preparação do evento, a coordenação lhe pediu para mudar de tema, que passou a ser “Verdade e Gênero”. Como o tema “toca nos crimes sexuais contra as mulheres pelos agentes militares e policias no tempo da ditadura”, ela afirma que aceitou a mudança.

No entanto, no último dia 6, a coordenação mais uma vez entrou em contato para “dizer que eu deveria não mais falar da ditadura e dos crimes ocorridos naquele período devido ao apoio dos militares ao Congresso”.

Segundo ela, diante da “proposta absurda”, não houve alternativa senão recusar sua participação. “Decidi, então, cancelar minha participação, pois sequer foram levados em conta os princípios democráticos que garantem a plena liberdade de expressão”, diz.

A ativista afirma que a coordenação do congresso argumentou que não poderia se limitar aos “problemas de uma época remota”. “Mais uma vez desconsiderou a necessidade de se revisitar o passado para enfrentar as questões presentes como a tragédia cotidiana da violência doméstica”, justificou Amelinha.

Na época militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Amelinha foi presa em 28 de dezembro de 1972, conduzida à Operação Bandeirantes (Oban) e submetida a sessões de tortura realizadas pessoalmente pelo major do exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, então comandante do DOI-Codi de São Paulo.