Alvo da CPI do padre Júlio, Craco Resiste já foi investigada a pedido de Rubinho Nunes; Justiça arquivou
O Coletivo A Craco Resiste, que não é ONG, atua há anos na defesa da população vulnerável da região conhecida pejorativamente como “Cracolândia”. Vereador não desiste da criminalização
Publicado 04/01/2024 - 19h06
São Paulo – Além do padre Júlio Lancellotti, o coletivo A Craco Resiste foi mencionado como alvo pelo vereador Rubinho Nunes (União), autor do pedido da polêmica CPI das ONGs aprovada na Câmara de São Paulo. Mas assim como o padre Júlio, A Craco não é ONG. Em comunicado à imprensa, seus componentes esclareceram que não se trata de uma Organização Não-Governamental. E sim de um grupo com finalidade de atuação política, cultural e cidadã. Ou seja, um movimento social que atua contra a violência na região e em defesa das pessoas.
“Somos um projeto de militância para resistir contra a opressão junto com as pessoas desprotegidas socialmente da região da Cracolândia. Atuamos na frente da redução de danos, com os vínculos criados com as atividades culturais e de lazer. E denunciamos a política de truculência e insegurança promovida pela prefeitura e pelo governo do estado”, afirmam, na nota.
Há anos a Craco Resiste tem denunciado, por exemplo, política de Higienismo que visam beneficiar apenas interesses do mercado imobiliário em detrimento das pessoas pobres que vivem nas ruas. É o caso de projetos de lei para revitalização urbana, que não incluem contrapartidas sociais. E para garantir esses interesses, a polícia atua sempre de maneira truculenta.
Não é a primeira vez que Rubinho Nunes persegue a Craco Resiste
O pedido da CPI foi apresentado em dezembro passado. O requerimento não falava sobre nenhuma Organização Não Governamental (ONG) especificamente. Contudo, estas entidades são foco da CPI, segundo declaração do próprio Rubinho Nunes.
Com a CPI o parlamentar tenta voltar a perseguir o coletivo A Craco Resiste. Em janeiro de 2022, a Justiça paulista arquivou investigação contra o coletivo e o médico-palhaço. Segundo a Ponte Jornalismo, o Tribunal acolheu pedido do Ministério Público, que entendeu não existirem provas de que os ativistas distribuíram seringas e cachimbos “para incentivar consumo de drogas” – conforme alegação de Rubinho Nunes.
Na época, A Craco Resiste organizou um ato em repúdio ao inquérito. O coletivo trabalha com a redução de danos na região central de São Paulo desde 2011 e denuncia a violência policial. "Essa investigação é uma forma de criminalizar a redução de danos". 👇🏿https://t.co/KLxmPrJqie
— Ponte Jornalismo (@pontejornalismo) January 4, 2024
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Leia a nota da Craco Resiste na íntegra
A Craco Resiste não é uma ONG. Somos um projeto de militância para resistir contra a opressão junto com as pessoas desprotegidas socialmente da região da Cracolândia.
Atuamos na frente da redução de danos, com os vínculos criados com as atividades culturais e de lazer. E denunciamos a política de truculência e insegurança promovida pela prefeitura e pelo governo do estado.
Quem tenta lucrar com a miséria são esses homens brancos cheios de frases de efeito vazias que tentam usar a Cracolândia como vitrine para seus projetos pessoais. Não é o primeiro e sabemos que não será o último ataque desonesto contra A Craco Resiste.
Inspiramos nossa coragem no fluxo – essas pessoas que sobreviveram ao sufocamento das prisões, à fome, ao racismo e à violência policial.
Respeitamos a sabedoria das e a arte das calçadas. Escutamos com atenção as rimas de esquina, os sambas de cachimbo e as ladainhas de palavras certeiras.
A multidão negra existe e vive apesar do Estado genocida impulsionado pelo ódio branco. Não dependem de caridade ou projetos sociais. São a própria potência de vida de pé contra os projetos de morte.
Lutemos pelo fim da guerra às drogas e de todas as prisões. Pelo direito à moradia, à saúde e ao bem-viver.
A Craco Resiste
Redação: Cida de Oliveira e Gabriel Valery