Serra sempre foi candidato em todas as eleições onde há ‘upgrade’

Uma das explicações para a alta rejeição do eleitor paulistano ao candidato a prefeito José Serra é a desconfiança quanto às reais intenções de exercer um eventual mandato de prefeito […]

Uma das explicações para a alta rejeição do eleitor paulistano ao candidato a prefeito José Serra é a desconfiança quanto às reais intenções de exercer um eventual mandato de prefeito ou usar a eleição atual apenas como trampolim para a corrida presidencial de 2014.

Os antecedentes do tucano que levam à desconfiança do eleitor não se restringem à eleição de 2004, quando ele prometeu, ao vivo na TV e assinou papel registrado em cartório, cumprir os quatro anos de mandato, sem renunciar para concorrer em 2006. Pois José Serra rasgou a promessa e abandonou a prefeitura 15 meses após a posse, para concorrer a governador, deixando o resto do mandato nas mãos do vice, Gilberto Kassab.

Além deste episódio, Serra tem um retrospecto de ambição pelo poder que, invariavelmente, em todas as eleições que existiram em seu caminho, ele concorreu a um ‘upgrade’, ou seja, a um cargo mais alto do que aquele que ocupava, exceto na de 1992.

Desde 1986, houveram 15 eleições no Brasil, de 2 em 2 anos. Serra concorreu em 10 delas. Vejamos:

– 1986: Serra concorreu e foi eleito para deputado federal;

– 1988: com a desistência de Franco Montoro, surgiu a oportunidade de disputar a prefeitura de São Paulo. Seria ‘upgrade’ de deputado. Serra concorreu, mas não ganhou. 

(Em 1989 houve eleições presidenciais. Serra não tinha cacife para disputá-la. A maior liderança do PSDB na época era Mário Covas, que foi o candidato).

– Em 1990, concorreu a deputado federal, reelegendo-se.

(Em 1992 foi a única eleição em que Serra não concorreu, havendo oportunidade de fazer ‘upgrade’. Nenhum grande nome do tucanato paulista quis disputar aquela eleição. O prefeito eleito foi Paulo Maluf)

– Em 1994, dentro de seu partido, na onda do plano Real, FHC foi o candidato a presidente, Covas foi o candidato natural a governador. Então Serra candidatou-se a senador, elegendo-se.

– Em 1996, Candidatou-se a prefeito de São Paulo novamente, outro upgrade, pois era um cargo que o projetaria mais do que senador e do que ministro do governo FHC. Perdeu para Celso Pitta.

(Em 1998, após a emenda da reeleição, não havia oportunidade para Serra se candidatar a nada mais alto do que seu mandato de senador, pois Covas e FHC foram candidatos à reeleição)

(Em 2000, Serra absteve-se de candidatar-se a prefeito, porque já era candidato a presidente em 2002)

– Em 2002, candidatou-se a Presidente, perdendo para Lula.

– Em 2004, candidatou-se a prefeito de São Paulo e venceu, na famosa eleição em que prometeu cumprir integralmente seu mandato sem abandonar a prefeitura para se candidatar em 2006.

– Em 2006, candidatou-se a governador, deixando a prefeitura 15 meses após a posse, rasgando as promessas. Serra venceu, em uma eleição marcada por acusações de escândalos contra o partido do oponente (na esteira das denúncias da grande mídia sobre o mensalão, inclusive.

(Em 2008, sendo Serra governador, obviamente não disputaria o cargo de prefeito)

– Em 2010, candidatou-se a presidente e perdeu, agora para Dilma. Mas imediatamente lançou-se candidato para 2014, com um discurso de “até breve”. Até janeiro deste ano, emitiu reiteradas declarações de que seu projeto era nacional, para disputar a Presidência da República novamente, e que a prefeitura não lhe interessava.

– Agora em 2012, constatando a perda de espaço político dentro do PSDB e da oposição, resolveu sair candidato à prefeitura. Todas as análises políticas óbvias indicam que Serra precisa desta eleição para manter seu nome em evidência e adquirir força política para enfrentar Aécio na disputa interna pela candidatura presidencial em 2014.

Com este retrospecto, nada mais óbvio do que apostar na alta probabilidade de o tucano voltar a concorrer à presidência em 2014, mesmo que seja eleito prefeito, agora. Segue a lógica do ‘upgrade’, de disputar todas, onde há um cargo mais alto a ser almejado.

Para reforçar esta percepção, José Serra sequer apresentou um programa de governo completo para administrar a capital paulista, o que indica improvisação e falta de metas para cumprir nos próximos quatro anos.

E, por fim, em sua campanha, Serra deixa os temas municipais relegados ao segundo plano, e insiste em fazer um discurso como se fosse líder da oposição nacional, mostrando-se, ou ao menos tentando, candidatíssimo a enfrentar a atual presidenta.