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Sem nomes para a Presidência, oposição deve apostar no Parlamento

Por que as oligarquias partidárias e midiáticas não fazem mais articulações por candidaturas que pudessem levar as eleições presidenciais ao segundo turno? A resposta pode estar no Congresso

Ag. Câmara

Perdem-se os aneis, mas ficam os dedos: melhor contar com um Congresso que siga barrando reformas institucionais

Houve e há um claro ar de desânimo em nutrir a possibilidade de uma candidatura de Marina Silva (PSB-AC), que sempre apareceu em segundo lugar nas pesquisas. Também há uma dissuasão de colunistas, editorais e declarações de lideranças partidárias esvaziando apoios a uma suposta candidatura presidencial de Joaquim Barbosa, que poderia receber uma parcela dos votos que serão nulos, o que aumentaria o percentual de votos válidos na oposição aumentando as chances de levar a eleição para segundo turno.

Um dos motivos, certamente, é a esperteza de caciques partidários. O PSDB importa-se menos de perder para Dilma, o que é aceito como natural, do que deixar de ser o principal partido de oposição e a principal alternativa de poder para 2018. O caso de Eduardo Campos (PSB-PE) é semelhante. Se sentirá no lucro se sair das eleições de outubro tomando o lugar de Marina Silva como nome forte para 2018.

Mas a esperteza dos caciques partidários não explica o apoio de oligarquias midiáticas e econômicas. Quando acharam interessante, as famílias Civita e Marinho, donas do Grupo Abril e das Organizações Globo, embarcaram na candidatura Collor em 1989, deixando de lado outros caciques políticos também alinhados ao conservadorismo político.

A explicação pode vir das eleições para o Congresso Nacional. O conservadorismo midiático e econômico tem atualmente bancadas que formam uma maioria folgada no parlamento. Essa maioria tem impedido reformas contrárias aos interesses desse conservadorismo.

Projetos como tributação de grandes fortunas, equiparação da alíquota do imposto de renda para milionários com outros países, aumento de receitas sobre o lucro privado para investir no SUS (Sistema Único de Saúde) e na Educação, maior moderação no poder dos bancos privados, democratização dos meios de comunicação, reforma política com plebiscito e mais participação direta, além de outras iniciativas para o desenvolvimento popular ficam travados no Legislativo.

Tanto as candidaturas de Marina Silva, como de Joaquim Barbosa, assumiriam o marketing da antipolítica convencional. Não demonstram ter fôlego para chegar ao Palácio do Planalto, mas poderiam gerar o efeito colateral de produzir baixas na eleição de bancadas conservadoras no parlamento.

Nem Marina nem Barbosa teriam discurso de puxadores de votos para elegerem bancadas próprias, mas o marketing antipolítica poderia favorecer o voto de opinião, elegendo mais parlamentares justamente do PT, PCdoB, Psol e outros, em detrimento de candidatos ligados ao poder econômico. Seria o pior dos mundos para as oligarquias midiáticas e econômicas ter a reeleição da atual presidenta e ainda por cima um parlamento que pendesse para a centro-esquerda em vez de para a centro-direita como é hoje.

Além das bancadas de oposição, hoje, partidos como PMDB, PSC, PP, PROS, PDT, PTB e PR articulam um “blocão” de parlamentares, lembrando o “centrão” formado durante a Assembleia Constituinte de 1988 para barrar tópicos progressistas. O blocão já se articula para influir no Marco Civil da Internet.

Querem incluir uma cláusula explicitando que velocidades de conexão possam ser vendidas com preços diferentes, como já é praticado hoje, e o texto atual do Marco Civil não tem nenhuma restrição a isto, desde que não discrimine conteúdos. Todo cuidado é pouco para que tal cláusula não retire o caráter de neutralidade da rede, já que o “blocão” teve seu embrião na casa do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ardoroso opositor da neutralidade.

Essa correlação de forças no Congresso Nacional explica a dificuldade das oligarquias midiáticas e econômicas em repetirem uma aventura como fizeram com Collor em 1989. Naquele ano as eleições foram “solteiras”, ou seja, o voto era exclusivamente para presidente da República. As eleições gerais, para Congresso Nacional e governadores, foi no ano seguinte.

Desta vez, as oligarquias econômicas também têm muito a perder se errarem a mão na fórmula de uma bruxaria política. Uma campanha presidencial muito radicalizada pode criar um ambiente de maior mudança no Legislativo, fazendo perder cadeiras do bloco conservador para parlamentares progressistas.

Isso pode explicar a frieza com que a chamada grande imprensa frita uma suposta candidatura de Joaquim Barbosa e deixa Marina Silva na geladeira. Aceitam perder os anéis com a reeleição de Dilma Rousseff, mas não aceitam perder os dedos: um parlamento eleito com maioria dócil a seus interesses.