Quadro das desigualdades demonstra falta de desenvolvimento regional

As cores mais claras, concentradas no centro, representam mais oferta de emprego e leitos hospitalares (Fonte: Quadro das Desigualdades) Juntamente com a terceira edição da pesquisa Indicadores de Referência de […]

As cores mais claras, concentradas no centro, representam mais oferta de emprego e leitos hospitalares (Fonte: Quadro das Desigualdades)

Juntamente com a terceira edição da pesquisa Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município (Irbem), a Rede Nossa São Paulo e o Ibope Inteligência lançaram nesta quarta-feira (18) o Quadro da Desigualdade em São Paulo. A pesquisa avalia e compara os distritos do município em uma série de indicadores, abordando temas como cultura, educação, saúde, assistência social, transportes, trabalho e renda, entre outros. Além das chocantes desigualdades, os números relativos aos equipamentos disponíveis em cada local explicitam alguns dos problemas de planejamento urbano da capital.

Nesse sentido, os dados de saúde são bons indicadores. O número de leitos hospitalares revela uma enorme disparidade. O campeão é o distrito da Consolação, que reúne 46,06 leitos para cada mil habitantes. O número é 1.196,7 vezes maior que o do distrito de Vila Medeiros, com 0,04 leitos para cada mil habitantes. E esse não é o número mais assustador: 26 distritos apresentaram indicador zero para o número de leitos – o mínimo recomendado pelo Ministério da Saúde é de 2,5 leitos/mil. Ainda na área da saúde, enquanto a taxa de mortalidade infantil do Camubuci, a melhor da cidade, é de 1,91 mortes para cada mil bebês nascidos vivos, no distrito do Jaguara são 24,92 mortes/mil, número 13 vezes menor.

A questão do emprego também tem dados interessantes. Segundo a pesquisa, 7.56% dos empregos da cidade de São Paulo estão concentrados no distrito do Itaim Bibi, na Zona Oeste. Enquanto isso, Marsilac fica com apenas 0,003% dos empregos, um valor 2.218,6 vezes menor. Da mesma forma, a porcentagem de desemprego entre jovens de 16 a 29 anos é consideravelmente maior nas periferias do que na região central, atingindo 16,49% nas subprefeituras de Cidade Tiradentes, Ermelino Matarazzo, Guaianases, Itaim Paulista, Itaquera, São Mateus e São Miguel.

O rendimento médio do trabalho também é concentrado na região central, tendo as subprefeituras do Butantã, Lapa e Pinheiros o maior valor, com R$ 2.773,00. Na outra ponta, Itaquera e outras subprefeituras apresentam um rendimento médio de R$ 1.063, 00.

Os mapas ao lado, que trazem a distribuição de leitos hospitalares e de empregos nos distritos, são claros: todos os distritos com déficit de empregos e vagas em hospital estão na periferia. Ou seja, a região central concentra tanto equipamentos públicos quanto oportunidades de trabalho. O primeiro resultado dessa equação é a óbvia penalização dos moradores dos bairros periféricos. Eles gastam mais tempo e mais dinheiro em deslocamentos diários para o trabalho e têm mais dificuldade para conseguir atendimento hospitalar.

Mas existem outras consequências que afetam a todos na cidade: a sobrecarga dos meios de transporte e do sistema viário, por exemplo. Se houvessem opções de trabalho suficientes em cada distrito, menos pessoas precisariam se deslocar pela cidade, gerando menos trânsito e ônibus menos lotados. Todo mundo gostaria de morar perto do trabalho, mas isso só é possível na região central. Por isso é fundamental discutir formas de desenvolver essas regiões, atraindo empregos e desconcentrando oportunidades.