Cais Mauá será revitalizado em Porto Alegre, inspirado em Barcelona

Porto de Hamburgo prevê projetos de moradia (Foto: © ELBE&FLUT) Porto Alegre está prestes a entrar no clube de cidades com obras de revitalização de sua área portuária. Apesar de […]

Porto de Hamburgo prevê projetos de moradia (Foto: © ELBE&FLUT)

Porto Alegre está prestes a entrar no clube de cidades com obras de revitalização de sua área portuária. Apesar de estar em curso há anos, a tentativa de reformar e mudar as características do Cais Mauá, à margem do Rio Guaíba, ganhou um impulso importante com a entrega, pela Prefeitura, da primeira etapa do Estudo de Viabilidade Urbanística. A partir de agora, o consórcio vencedor da licitação, formado majoritariamente por empresas espanholas, estará apto a desenvolver os estudos de impacto ambiental e os projetos executivos

O projeto, desenhado pelo arquiteto espanhol Fermín Vázquez, tem como inspiração a revitalização do Porto de Barcelona. Está prevista a construção de parque empresarial com centro de convenções, comércio e um hotel, a utilização dos galpões para a criação de áreas culturais e a abertura de áreas para lazer. A área do projeto abrange 300 mil metros quadrados. Apesar de ser uma das obras mais importantes da cidade para a Copa de 2014, o projeto não está disponível para consulta pública.

Inspiração seletiva

Assim como o projeto Porto Maravilha, que está em curso na área portuária do Rio de Janeiro, a reforma do Cais Mauá respira exemplos internacionais. Infelizmente, essa inspiração costuma ser cega e seletiva. Cega porque muitas vezes, animados com o sucesso desses projetos em outras cidades – além de Barcelona, San Diego e Hamburgo são exemplos importantes – os responsáveis pelas obras no Brasil esquecem que a realidade do país nem sempre comporta os mesmos tipos de mudanças ocorridas em outros lugares. É necessário que os conceitos que levaram esses portos a se transformarem em casos de sucesso sejam traduzidos para a realidade brasileira – e não copiados.

A inspiração também é seletiva porque, na maior parte dos casos, a questão da moradia fica de fora de grandes projetos no Brasil, incluindo as áreas portuárias. No Rio de Janeiro, não existe qualquer regulação que garanta a construção de moradia na área portuária. Sem a obrigação de investir em habitação, é pouco provável que investidores deixem de construir torres de escritórios, que são muito mais rentáveis. Em Porto Alegre tampouco há menção à habitação na área, pelo menos por enquanto.

Garantir que haja moradia nessas áreas revitalizadas é importante para que o novo bairro se sustente com as próprias pernas. É senso comum que um dos problemas de áreas centrais nas nossas capitais é a falta de moradores. Quando só há escritórios, a área não tem movimento à noite e torna-se perigosa, alimentando o ciclo de degradação. Isso acontece com qualquer área sem moradia, não importa quão high tech seja a arquitetura dos prédios.

Em HafenCity (Hamburgo), por exemplo, uma grande área foi destinada para habitação – cerca de 5 mil apartamentos estavam previstos no projeto original, que ainda está em implantação. Além disso, uma revisão do plano diretor da área aumentou a área destinada a apartamentos, garantindo mais 800 unidades habitacionais. As torres de escritório estão lá – cerca de 20 mil pessoas trabalharão no local ao fim da implantação -, assim como as áreas de lazer e restaurantes. Só que tudo isso convive com áreas de moradia.

Mesmo com toda a preocupação dos mentores do projeto em tornar o porto de Hamburgo habitável e promover um mix social de moradores, há sempre a possibilidade de que, depois de um tempo, apenas pessoas de maior poder aquisitivo morem na região, o que é conhecido como gentrificação. Se isso é uma preocupação na Alemanha, deveria ser muito maior no Brasil, onde o mercado imobiliário dita praticamente todos os processos urbanos. Isso mostra que a cópia de ideias implantadas em outros lugares jamais podem ser implantadas sem habitação, não importando o sucesso ou as boas intenções que ele carregue. É preciso vida inteligente nas administrções públicas – e que essas pessoas tenham poder de interferir nos processos urbanos.

No caso do Rio de Janeiro, é improvável que isso aconteça. As obras do Porto Maravilha já estão em andamento e as regras já estão postas. No caso de Porto Alegre, parece ainda haver tempo para avaliar as reais necessidades da cidade e contemplá-las no projeto do Cais Mauá.

Para mais informações, o site de HafenCity (em inglês) é uma ótima fonte.