Massacre de Corumbiara completa 17 anos. 17 anos de injustiça

A Rede Brasil Atual publica texto do secretário do Instituto Adelino Ramos (INFCAR), Valdir Fernandes, lembrando os 17 anos do massacre de Corumbiara. Até hoje, os mandantes do crime seguem […]

A Rede Brasil Atual publica texto do secretário do Instituto Adelino Ramos (INFCAR), Valdir Fernandes, lembrando os 17 anos do massacre de Corumbiara. Até hoje, os mandantes do crime seguem impunes. Foram condenados dois trabalhadores rurais. Um deles, Claudemir Ramos, teve a história contada pela RBA na série “O foragido da injustiça”. O pai dele, Adelino Ramos, que chegou a ser indiciado após a investigação pela Polícia Militar, diretamente envolvida no massacre, foi morto no ano passado em Rondônia, ao que tudo indica em mais um crime relacionado à luta por terras. O Judiciário estadual determinou a soltura do único suspeito pela morte, que acabou morto menos de um mês depois, o que resultou no arquivamento da investigação. Com isso, novamente os mandantes ficarão soltos. Confira abaixo o artigo e as reportagens publicadas sobre o assunto.

Era dia 09 de agosto de 1995. Cidade de Corumbiara, estado de Rondônia, Brasil. Os sem-terra estavam acampados na fazenda Santa Elina com suas famílias, amigos e companheiros. A polícia, o Judiciário e o governo do estado estavam organizados para ‘atacar’ os invasores. 

Tudo acertado para se fazer a operação militar, e o comandante da tropa procurava ludibriar os sem- terra para ‘ganhar’ tempo ou para ‘enrolar’ os ocupantes e preparar o verdadeiro genocídio, que marcou a história do Brasil e a luta pela terra.

Vários políciais militares, jagunços e muitos infiltrados se armaram com armas de fogo, fizeram o cerco e aguardavam a ordem para ‘liquidar’ com os sem-terra. Pela covardia, que deve ser a marca da polícia de Rondônia, prepararam o dito ‘ataque’ na madrugada ea não dar chance aos sem-terra de se protegerem ou de reagirem.

Dada a voz de comando, os policiais, os jagunços e os infiltrados começam a se aproximar do acampamento. Os sem-terra perceberam a chegada da polícia e, ao primeiro grito de socorro, ouvem-se tiros e mais tiros. Foi a verdadeira covardia!

A polícia invade o acampamento, atira para todos os lados e sem pudor. 11 sem-terra mortos, incluindo uma menina de 7 anos, de nome Vanessa, que, ao susto dos tiros, levanta-se e tenta fugir. Além deles, dois policiais são encontrados mortos.

Como sempre, parte da mídia tenta descontruir, mas o movimento católico, o movimento sindical rural e as famílias que estavam acampadas clararam por socorro e assim que os primeiros integrantes de movimentos de direitos humanos chegam a Corumbiara, percebem a desgraça que a polícia fez. 

Alem das mortes já certas no acampamento, alguns são recolhidos para o hospital de Vilhena, em Porto Velho. Entre os socorridos estavam Claudemir Gilberto Ramos, um dos que sobreviveram. Sua vida só foi salva graças à CUT de Rondônia, que juntamente com o então presidente nacional, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, solicitaram que retirassem Claudemir da cidade para não ser morto.

Passados dias do massacre, a investigação foi feita pela Polícia Militar. O resultado não poderia ser outro: policiais absolvidos e os sem-terra condenados. A Comissão Pastoral da Terra e outras entidades solicitaram um novo julgamento e o resultado, o mesmo, policiais absolvidos e os sem-terra condenados.

Os movimentos sociais recorreram do julgamento à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que se prontificou a fazer uma nova investigação. Mas, como a entrada do Brasil no sistema regional se deu após o massacre, a conclusão da comissão foi de que a apuração internacional não poderia ser levada adiante. Porém, os flagrantes erros e imprecisões na investigação local levaram a comissão a recomendar um novo julgamento. 

Não havendo mais como recorrer à Justiça, o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) protocolou um projeto de lei na Câmara solicitando anistia política aos dois únicos sem-terra condenados, Claudemir Gilberto Ramos e Cícero Pereira. 

Enquanto isso, já se passaram 17 anos do massacre e, para lamentar a inoperância do governo, o pai de Claudemir foi assassinado por jagunços no dia 27 de maio de 2011. O suposto matador foi preso, solto e assassinado e o caso foi arquivado pela justiça de Rondônia.

Agora, o que nos resta? A Justiça? A reparação? A terra?