Massacre de Corumbiara completa 17 anos. 17 anos de injustiça
A Rede Brasil Atual publica texto do secretário do Instituto Adelino Ramos (INFCAR), Valdir Fernandes, lembrando os 17 anos do massacre de Corumbiara. Até hoje, os mandantes do crime seguem […]
Publicado 04/08/2012 - 12h04
Era dia 09 de agosto de 1995. Cidade de Corumbiara, estado de Rondônia, Brasil. Os sem-terra estavam acampados na fazenda Santa Elina com suas famílias, amigos e companheiros. A polícia, o Judiciário e o governo do estado estavam organizados para ‘atacar’ os invasores.
Tudo acertado para se fazer a operação militar, e o comandante da tropa procurava ludibriar os sem- terra para ‘ganhar’ tempo ou para ‘enrolar’ os ocupantes e preparar o verdadeiro genocídio, que marcou a história do Brasil e a luta pela terra.
Vários políciais militares, jagunços e muitos infiltrados se armaram com armas de fogo, fizeram o cerco e aguardavam a ordem para ‘liquidar’ com os sem-terra. Pela covardia, que deve ser a marca da polícia de Rondônia, prepararam o dito ‘ataque’ na madrugada ea não dar chance aos sem-terra de se protegerem ou de reagirem.
Dada a voz de comando, os policiais, os jagunços e os infiltrados começam a se aproximar do acampamento. Os sem-terra perceberam a chegada da polícia e, ao primeiro grito de socorro, ouvem-se tiros e mais tiros. Foi a verdadeira covardia!
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A polícia invade o acampamento, atira para todos os lados e sem pudor. 11 sem-terra mortos, incluindo uma menina de 7 anos, de nome Vanessa, que, ao susto dos tiros, levanta-se e tenta fugir. Além deles, dois policiais são encontrados mortos.
Como sempre, parte da mídia tenta descontruir, mas o movimento católico, o movimento sindical rural e as famílias que estavam acampadas clararam por socorro e assim que os primeiros integrantes de movimentos de direitos humanos chegam a Corumbiara, percebem a desgraça que a polícia fez.
Alem das mortes já certas no acampamento, alguns são recolhidos para o hospital de Vilhena, em Porto Velho. Entre os socorridos estavam Claudemir Gilberto Ramos, um dos que sobreviveram. Sua vida só foi salva graças à CUT de Rondônia, que juntamente com o então presidente nacional, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, solicitaram que retirassem Claudemir da cidade para não ser morto.
Passados dias do massacre, a investigação foi feita pela Polícia Militar. O resultado não poderia ser outro: policiais absolvidos e os sem-terra condenados. A Comissão Pastoral da Terra e outras entidades solicitaram um novo julgamento e o resultado, o mesmo, policiais absolvidos e os sem-terra condenados.
Os movimentos sociais recorreram do julgamento à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que se prontificou a fazer uma nova investigação. Mas, como a entrada do Brasil no sistema regional se deu após o massacre, a conclusão da comissão foi de que a apuração internacional não poderia ser levada adiante. Porém, os flagrantes erros e imprecisões na investigação local levaram a comissão a recomendar um novo julgamento.
Não havendo mais como recorrer à Justiça, o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) protocolou um projeto de lei na Câmara solicitando anistia política aos dois únicos sem-terra condenados, Claudemir Gilberto Ramos e Cícero Pereira.
Enquanto isso, já se passaram 17 anos do massacre e, para lamentar a inoperância do governo, o pai de Claudemir foi assassinado por jagunços no dia 27 de maio de 2011. O suposto matador foi preso, solto e assassinado e o caso foi arquivado pela justiça de Rondônia.
Agora, o que nos resta? A Justiça? A reparação? A terra?