eleições

Marina é a segunda via do PSDB

Consagrada Marina Silva como substituta de Eduardo Campos, é hora de dizer algumas verdades e levantar alguns questionamentos

antônio cruz/agência brasil

Ex-ministra de Lula assumiu o lugar de Eduardo Campos na chapa do PSB

Marina Silva vem sendo apontada como aquela que poderia capturar a insatisfação com a velha política, manifestada por milhões que saíram às ruas em junho de 2013. É preciso, entretanto, ir além da simbologia criada em torno de Marina para avaliar o que ela realmente representa. Avaliar cuidadosamente os elementos programáticos, seus aliados, seu modelo de gestão e seu projeto de país. Assim podemos tecer um primeiro diagnóstico da essência da candidatura de Marina.

Apesar do discurso em torno de uma “nova política”, a própria candidata nos fornece elementos para demonstrar que ela não representa nada de novo.

Ela defendeu, desde a campanha de 2010, um “realinhamento” entre PT e PSDB. Disse apoiar a política econômica de FHC e Lula. Sua suposta negação dos partidos tradicionais não a impediu de ingressar no PSB, abrigo de usineiros, oligarquias familiares e até de reacionários notórios como os Bornhausen, de Santa Catarina. Agora, para ser ungida candidata pelo PSB, assumiu os compromissos costurados por Eduardo Campos, dividindo o palanque com o PT no Rio de Janeiro e com PSDB em São Paulo. Isso não tem nada de novo na política. Marina acaba, assim, avalizando as velhas práticas de sempre.

Só se constrói uma nova política a partir da crítica radical aos partidos do sistema e do modelo econômico vigente. Marina não faz nem uma coisa nem outra. Tenta se apresentar como o novo, mas está associada ao velho. Do ponto de vista econômico ela está, inclusive, mais próxima do PSDB.

E a política econômica está na base de tudo. Não há nova política sem mudar as estruturas econômicas que permitem a desigualdade extrema de renda, os lucros indecentes dos bancos e a destinação de 40% do orçamento do Brasil para o pagamento de juros da dívida pública.

Os economistas que orientam Marina são da escola do PSDB. Eduardo Gianetti da Fonseca é o mais próximo de Marina. Em entrevista à Folha de São Paulo, no dia 21 de outubro de 2013, ele afirma que, “no tocante à política macroeconômica, não vamos reinventar a roda. Vamos continuar o que estava funcionando muito bem no Brasil, que é o tripé [superávit primário, metas de inflação e câmbio flutuante].”

Isto significa que, numa eventual vitória de Marina, a política econômica vai ser mantida? Uma política que garante a dominação e o elevado poder econômico e político do setor financeiro. Que faz com que o Estado execute medidas de defesa, consolidação e avanço dos interesses do capital financeiro com altas taxas de juros para controlar a inflação, em detrimento dos salários, das aposentadorias e dos investimentos públicos.

Neste modelo não há espaço para aumentar significativamente o nível de investimento em saúde e educação ou acabar com o fator previdenciário, nem para estancar a sangria de 40% do orçamento do Brasil em favor das 5 mil famílias mais ricas do Brasil e os bancos. Mais da metade da arrecadação de impostos vem de pessoas que ganham até três salários mínimos. É o dinheiro dos pobres garantindo o pagamento dos juros para os ricos. Com Marina a bolsa banqueiro vai continuar?

Este mesmo modelo também está empenhado em atender os interesses dos mercados mesmo dentro das principais empresas públicas brasileiras. O economista de Marina não deixa dúvidas.

“Tornam a Petrobras responsável por pelo menos 30% dos investimentos no Pré-Sal e, ao mesmo tempo, puxam o tapete da Petrobras segurando os preços dos combustíveis. O governo vinha de dois bons momentos de política macroeconômica, durante FHC e o primeiro governo Lula”, afirma ele.

Esta declaração deixa bem clara a intenção de aumentar os preços da gasolina, atendendo ao pleito dos acionistas privados da Petrobras, que pressionam pelo aumento dos seus lucros. Marina vai aumentar a gasolina?

Mas o ataque não para por aí. “Corrigir o salário mínimo pelo crescimento de dois anos atrás e o IPCA do ano anterior não tem o menor sentido. Também é complicado reajustar o benefício previdenciário pelo salário mínimo. Atrelar perpetuamente [as aposentadorias] ao salário mínimo não faz sentido”, acrescenta Gianetti.

A principal reivindicação dos aposentados, que é o reajuste das aposentadorias de acordo com a correção do salário mínimo, é descartada pelo conselheiro de Marina. Então, com ela no governo, continuará valendo a regra que faz com que o cidadão que se aposenta ganhando cinco salários em poucos anos estará ganhando apenas um? E como será o reajuste do salário mínimo?

Numa entrevista mais recente, em 14 de agosto de 2014, o economista de Marina foi ainda mais explícito nos vínculos da candidata com o PSDB e sobre a necessidade de se fazer um ajuste duro, obviamente contra o povo.

Foi durante palestra no 24º Congresso da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), quando ele disse que há “uma forte convergência” entre o PSDB e o PSB para as políticas econômicas necessárias, caso derrotem o atual governo nas eleições. “A oposição vai corrigir os equívocos do atual governo, com a volta do tripé macroeconômico, com um movimento inevitável de correção e ajustes aos desequilíbrios”, disse. “A hipotética vitória da oposição será de ajustes duros que restabeleçam confiança”. Então, vai fazer um ajuste duro? Contra quem?

No mesmo evento, Gianetti defendeu a correção de tarifas dos serviços e produtos administrados, como energia e combustíveis, além da busca por metas fiscais pautadas pela redução dos gastos do governo e ainda ajuste no câmbio e até nos juros no início do governo. “Você limpa horizontes e estabelece cenário de volta à normalidade”, afirmou. Marina vai aumentar as tarifas públicas? Quem vai pagar a conta?

Em recente reportagem do jornal o Globo, Marina levanta a bandeira da austeridade fiscal, e defende a autonomia do Banco Central para elevar os juros com o pretexto de controlar a inflação, independente das políticas do governo. Entre seus assessores circula a notícia que, se eleita, convidaria o presidente da Febraban, Murilo Portugal, para ser parte de sua equipe econômica.

Então, austeridade – isto é, corte de gastos públicos para sobrar dinheiro para o pagamento das dívidas – é bandeira de Marina? Ela vai dar mais autonomia para o Banco Central, já capturado pelos mercados?

Não é casual, também, que Luiz Carlos Mendonça de Barros, um dos principais analistas econômicos do PSDB publicou comentário em uma rede social afirmando que o PSDB se aliaria a ela para “selar a remoção do PT do poder”.

Marina vai governar com o PSDB?

O texto completo pode ser lido no link:

Marina é a segunda via do PSDB