proporções

Fim do milagre chinês?

Já se sabia que a economia chinesa iria retroceder para sobreviver à crise global iniciada em 2008, mas analistas preferem ignorar que o país prepara o futuro em boas bases, assim como o Brasil

CC Hazy Lujiazui

Xangai, China. Desaceleração estratégica com olho no futuro pós-crise global

Assim como no Brasil, cuja imprensa e analistas políticos e econômicos majoritariamente enfatizam fundamentalmente as notícias ruins e decretam o paraíso após a saída do Partido dos Trabalhadores do governo, a China também se encontra sob ataque nocivo da mídia ocidental. Isso porque não aceitam o fato de um país dirigido pelo Partido Comunista possa ter competência para converter uma economia subdesenvolvida na maior potencia mundial em plena hegemonia do neoliberal.

Diante da evidência dos fatos de transformação e fortalecimento da economia chinesa em tão pouco tempo, passam insistentemente a reforçar as fraquezas do país, difundindo que a orientação estatista dos bancos e o controle dos capitais levam inexoravelmente à insustentabilidade do país no curto prazo. Mesmo diante da crise de dimensão global iniciada em 2008, justamente no sistema bancário dos Estados Unidos, desregulado pelo receituário neoliberal, apostam todas as fichas na desestruturação chinesa.

Atualmente, frente ao menor ritmo de expansão da economia chinesa, cerca de 1/3 menor desde 2008 quando comparado com o período anterior de 2000–2007, analistas e a mídia ocidental apontam o fim do ciclo chinês? Será?

Mesmo o desempenho chinês sendo quase três vezes superior ao dos Estados Unidos a cada ano, a China segue sendo desacreditada por análises concentradas na queda de sua bolsa de valores, nas demissões de trabalhadores e na desaceleração do seu ritmo de crescimento. Uma espécie de festejo ao noticiar que a expansão econômica de 6,9% em 2015 foi a menor dos últimos 25 anos.

Toda essa torcida neoliberal em favor do descrédito chinês tende a ser surpreendida pela força da realidade. Como se sabe desde 2011, o 12º Plano Quinquenal estabeleceu a reestruturação chinesa assentada na desaceleração organizada de sua economia para cerca de 7% ao ano, o seria necessário para preparar o seu futuro frente à crise capitalista global de longa duração.

Vários passos têm sido dados a partir de então. De um lado, a inauguração das bases de um novo sistema monetário e financeiro em substituição ao anacronismo especulativo que predomina desde o abandono das regras de Bretton Woods pelos Estados Unidos em 1973. A inauguração de vários bancos pela presença chinesa, como os exemplos do Banco dos Brics e do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura que possui o apoio de quase 60 países, conta com a oposição dos Estados Unidos e responde à negação dos países ricos à realização das reformas necessárias nas agências multilaterais como FMI e Banco Mundial que seguem propagandeando o neoliberalismo.

De outro lado, os investimentos chineses na reconstrução da infraestrutura do desenvolvimento em parceria com vários países. Ressalta-se, por exemplo, o gigantismo dos investimentos, tanto no cinturão do antigo caminho da seda, quanto na nova rota marítima para o século 21, que envolve mais de meia centena de países e abrange quase 4 bilhões de habitantes.

Em síntese, a China, não obstante o agorismo da mídia e analistas internacionais, consegue avançar no sentido da construção de uma nova ordem mundial, por meio de exitoso modelo político e econômico alternativo ao desastre neoliberal.

Guardada a devida proporção, o pessimismo cantado em prosa e verso no Brasil pelos meios de comunicação, em articulação com as forças do atraso neoliberal, aposta no quanto pior, melhor. Ignoram, contudo, que os avanços alcançados pela adoção de política econômica e social distinta do receituário neoliberal aplicado até 2002 não se encontram interrompidos pela “incompetência petista”.

Ao contrário, o Brasil prepara, em novas bases, o seu futuro em meio à crise capitalista global. Isso o tempo dirá e, por isso, a emergência do golpismo alimentado insistentemente pelo ódio da elite irada diante das alternativas ao atraso neoliberal por ela defendida.