Analista descarta virada fundamentalista no Egito

Popularidade da Fraternidade Muçulmana é força popular no Egito, por causa de anos de críticas a Mubarak (Foto: Suhaib Salem/Reuters) São Paulo – As possibilidades de que os protestos no […]

Popularidade da Fraternidade Muçulmana é força popular no Egito, por causa de anos de críticas a Mubarak (Foto: Suhaib Salem/Reuters)

São Paulo – As possibilidades de que os protestos no Egito conduzam o país a um regime de caráter fundamentalista islâmico são baixas na visão do pesquisador Juan Cole, historiador da Universidade de Michigan. Ele sustenta que, ao contrário do que alguns analistas chegaram a cogitar, são pequenas as semelhanças com a revolução do Irã de 1979, que instalou o regime comandado pelos aiatolás no país persa.

Em artigo publicado em seu blogue, Informed Comment, Cole explica que os profissionais liberais e ativistas ligados a sindicatos são os setores mais organizados e ativos nas manifestações contra Hosni Mubarak, presidente do Egito há 30 anos. No Irã há 31 anos, esses setores médios tiveram um papel menos preponderante.

Junto deles, há partidos liberais e conservadores seculares e laicos relativamente fortes, incluindo até o NDP, de Mubarak. Apesar de estar em crise e ser alvo de críticas por ser ligado a um regime marcado por corrupção e denúncias de tortura e violações de direitos humanos, ainda têm força no país.

O principal motivo de comparações entre Irã de 1979 e Egito de 2011 está relacionado ao papel da Fraternidade Muçulmana, um grupo islâmico que, em sua origem, nos anos 1920, tinha traços fundamentalistas. Porém, diferentemente dos líderes xiitas do Irã, o grupo egípcio afastou-se do extremismo e da organização partidária.

“Uma das causas da popularidade da Fraternidade Muçulmana hoje é o fato de sempre ter feito oposição ao governo de Mubarak; sem esse ‘alvo’ e sem outro claro programa político, é possível também que venha a perder votos”, escreveu Cole. “Outros políticos religiosos ou empresários podem aparecer, em atmosfera de maior liberdade, dividindo os setores religiosos do eleitorado. E a Fraternidade Muçulmana pode também evoluir mais na direção em que evoluiu o Partido Justiça e Desenvolvimento da Turquia, afastando-se de sua tradição de organização antiquada, sectária, clandestina”, sustenta.

Cole afirma ainda que a ideologia da Fraternidade Muçulmana impede que o grupo participe de qualquer tipo de democracia parlamentar. Corrobora como o impedimento previsto na legislação do país não admite partidos religiosos, embora candidatos ligados ligados ao grupo tenham sido eleitos ao parlamento por outros partidos.

Além disso, os comerciantes egípcios são menos ligados a líderes religiosos no Egito do que eram no Irã. O bazaar (mercado) de Teerã era mal-visto pelo regime do xá, o que tornava Reza Pahlavi especialmente impopular nesse meio. Isso fez com que se tornassem os principais financiadores dos aiatolás às vésperas da revolução.

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