Alexandre Padilha

Diagnóstico e tratamento de câncer no Brasil estão em risco

Governo Bolsonaro quer destruir uma instituição pública que por mais de 60 anos nunca faltou com oferta de produtos e medicamentos para o enfrentamento da doença

Reprodução / Facebook
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IPEN é uma autarquia do governo do estado de SP e sua gestão é feita por um convênio com a Comissão Nacional de Energia Nuclear do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações

O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), órgão de pesquisa técnico-científica, desenvolvimento tecnológico e responsável pela  garantia do direito à saúde através da produção de radiofármacos para diagnóstico e tratamento de câncer,  está sendo sufocado pelo governo Bolsonaro.

O Ipen é uma autarquia do governo do estado de São Paulo e sua gestão é feita por um convênio com a Comissão Nacional de Energia Nuclear do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e está sendo desmontado pelo governo federal que cortou recursos, tentou aprovar mudança na Constituição para transferir para o setor privado a produção e, na recente porém não última presepada, exonerou o diretor da instituição sem consultar o governo do estado de São Paulo, a direção do órgão e os seus pesquisadores.

Solicitei ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, através de um requerimento, informações a respeito da exoneração do diretor de Instituto, sobre qual  justificativa e por que o Ministério ignorou o estabelecido no convênio com o governo do estado de SP, que prevê que o ocupante do cargo seja nomeado após passar pela avaliação do Conselho Superior do Instituto e pelo governador do estado.

A falta de recurso federal fez com que o órgão suspendesse a produção no ano passado, prejudicando milhares de pacientes que tiveram seus tratamentos de câncer interrompidos.

O governo federal quer destruir uma instituição pública que por mais de 60 anos nunca faltou com oferta de produtos e medicamentos que são necessários para o diagnóstico e tratamento de câncer no Brasil.

O Ipen garante, inclusive, a preços infinitamente menores do que o setor privado a produção e entrega desses insumos para os hospitais de todo o país.

Além disso, o órgão, por esse serviço que presta aos hospitais e pacientes, consegue garantir também a formação e qualificação de técnicos e pesquisadores em radiofármacos para produção desse conhecimento que é muito importante para diagnóstico e tratamento.

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Os países do mundo que contam com sistemas nacionais públicos compreendem a produção de radiofármacos como algo estratégico. A pandemia da covid-19 nos mostrou que nós não podemos ficar dependentes da importação de insumos essenciais para a saúde e é isso que vai acontecer caso o governo federal atinja seu objetivo de destruir essa instituição, que é uma autarquia do estado de São Paulo e que atua em convênio com o governo federal.

Pacientes  com diagnóstico e tratamento de câncer no Brasil inteiro sofrem com o enorme risco de não terem acesso às terapias pelo descaso, sufocamento e descompromisso do governo federal com o Ipen e com os brasileiros.


*Alexandre Padilha é médico, professor universitário e deputado federal (PT-SP). Foi ministro da Coordenação Política de Lula e da Saúde de Dilma e secretário de Saúde na gestão Fernando Haddad na cidade de São Paulo