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Apesar da torcida contra, abertura da Copa foi vitória do Brasil

No primeiro jogo da Copa do Mundo no Brasil teve um pouco de tudo, mas a organização necessária para proporcionar o que o espetáculo se propunha, o futebol, alcançou pleno sucesso

Ricardo Stuckert/ CBF

Muita gente quis o contrário e houve até alguns problemas, mas abertura da Copa do Mundo foi sucesso

Gol contra, erros da Fifa ao dar pouco destaque no primeiro pontapé inicial com auxílio de um exoesqueleto controlado pelo cérebro, vaias políticas, manifestações pequenas mas acima do tom fora dos estádios, com repressão também acima do tom. No primeiro jogo da Copa do Mundo no Brasil teve um pouco de tudo, mas prevaleceu a organização para proporcionar – ao torcedor de todo o mundo – um grande espetáculo de futebol, que afinal de contas, é disso que trata uma Copa.

Na estreia da seleção, apesar de um jogo tenso, não faltou futebol e emoção, que é o essencial. Um gol contra do Brasil abrindo o placar de forma contrária às previsões, deu mais dramaticidade à partida. Um pênalti duvidoso para a seleção garantiu a polêmica que faz parte da mítica do futebol.

Dentro do estádio, o maior vexame foi de uma parte da torcida, que puxou vaias e xingamentos à presidenta da República. O episódio teve início em um setor VIP, com ingressos mais caros e repleto de celebridades televisivas, diga-se, globais.

Quanto a Dilma, a baixaria só mostrou o quanto há no Brasil um segmento da elite econômica intolerante e mal educada que não aceita uma democracia popular com um governo que priorize políticas públicas para os mais pobres. O vexame foi para quem xingou.

Já hoje (13), no dia seguinte à abertura da Copa, Dilma deu as devidas dimensões das vaias e xingamentos que recebeu: “O povo brasileiro não age assim e não pensa assim. Sobretudo, o povo não sente da forma como esses xingamentos expressam.”

A festa de abertura, também sob encomenda e controle da Fifa, foi criticada por muita gente, classificada de “mixuruca” se comparada às superproduções feitas nas Olimpíadas. Mas foi assim em todas as outras Copas do Mundo. Talvez porque, ao contrário das Olimpíadas, a grande superprodução são os jogos de futebol propriamente ditos, com os melhores craques do mundo. A partida inaugural e seus 90 minutos regulamentares de duração dispensa uma longa abertura superproduzida, diferentemente das Olimpíadas.

Mas nada justifica a Fifa ter “perdido o bonde da história”, ao dar quase nenhum destaque ao primeiro pontapé inicial simbólico dado por um paraplégico usando um exoesqueleto controlado por seu cérebro. Seria o grande momento da abertura do evento, capaz de encantar o mundo. Mas a produção da Fifa, que controla a festa, acabou dedicando apenas sete segundos ao fato, que passaram quase despercebidos.

Fora dos estádios, houve manifestações localizadas, pequenas mas barulhentas, de grupos hostis à realização da Copa no Brasil. Em algumas cidades se limitaram a manifestações pacíficas, e nem todas necessariamente contra a Copa, mas em defesa de causas mais concretas, como é o caso da presença de trabalhadores em greve ou em reivindicações entre os manifestantes.

Mas em São Paulo, Rio e Belo Horizonte houve confronto com a polícia e depredações, porém em pequena escala. Salvo casos isolados não chegaram a prejudicar quem queria torcer nas ruas. Em alguns casos, como em São Paulo, a ação policial pecou pelo uso de força muito acima da necessária, acirrando os ânimos.

Se é verdade que a ação provocativa de Black Blocs não ajuda a manter manifestações pacíficas, caberia à polícia, por representar o Estado, evitar ao máximo aceitar provocações e outras táticas para contê-los. Nem sempre é isso o que vemos, e parece ser opção e determinação do governadores a repressão com força bruta.

A Copa passou por sua primeira prova de fogo, a da abertura, aquela que provocava mais expectativas. E no conjunto da obra o Brasil fez bonito e passou com louvor. Ao contrário do que a turma do contra pregava, a “Copa das Copas”, como gosta de chamar a presidenta Dilma, se consolida com o padrão Brasil: uma nação capaz de superar grandes desafios, com uma democracia popular ainda nova, mas vibrante e com oligarquias arcaicas, formada por pessoas que ainda se sentem os reis dos camarotes.